Clínicas de vacinação pelo país voltaram a oferecer a vacina da dengue Qdenga, que foi limitada na rede privada em fevereiro pela farmacêutica Takeda para atender a demanda da campanha no Sistema Único de Saúde (SUS), inédita no mundo.
Em nota, o laboratório afirma que tem disponibilizado um “estoque de segurança” para a rede privada a fim de “atender a demanda da população que não é elegível à vacina pelo SUS”, além de suprir a necessidade de segunda dose para quem já recebeu a primeira.
A campanha na rede pública é direcionada a jovens de 10 a 14 anos de 1.920 municípios selecionados por critérios como alta prevalência e disseminação de dengue, mas a dose foi aprovada para uso no Brasil por todos de 4 a 60 anos.
A farmacêutica não informa o quantitativo exato que está sendo destinado à rede privada, mas diz que “continua baixo em função da priorização do atendimento à demanda do SUS”.
A Qdenga começou a ser ofertada em clínicas privadas e farmácias do país ainda em julho do ano passado, quatro meses depois de ter recebido o sinal verde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em fevereiro deste ano, dois meses depois de o Ministério incorporar a dose no SUS, a Takeda anunciou que iria restringir a venda para atender a campanha da rede pública, já que o laboratório tem uma capacidade limitada de produção.
O acordo com o governo brasileiro, por exemplo, contempla apenas 6,6 milhões de doses para 2024 e 9 milhões para o ano que vem, o que, segundo afirmou ao GLOBO o presidente da Takeda no Brasil, José Manuel Caamaño, é a “maior quantidade possível de vacinas”.
Procurado, o Ministério da Saúde disse adquiriu todo o quantitativo de doses disponibilizadas pelo laboratório para 2024 e 2025. Sobre novas compras, afirmou que “”poderão ser feitas se houver nova disponibilidade de doses no Brasil e no mundo”, continuou.
Quanto custa a vacina da dengue?
Na rede privada, a dose pode ser encontrada por valores que variam entre R$ 350 e R$ 490. Como o esquema envolve duas aplicações, com um intervalo de três meses entre elas, o preço final fica de R$ 700 a R$ 980.
Onde a vacina da dengue está disponível?
No grupo Fleury, que engloba marcas como Labs a+, Clínica Felippe Mattoso e LAFE em 12 estados e no Distrito Federal, “as doses estão chegando aos poucos em todas as unidades”, diz em nota. O preço de cada uma varia de R$ 436 e R$ 498 a depender da região.
Na rede de saúde integrada Dasa, que engloba 30 marcas como Sérgio Franco, Bronstein, Alta, Delboni, Exame e Atalaia em 12 estados e no Distrito Federal, a primeira dose voltou a ser ofertada somente nas unidades do Alta Diagnósticos localizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nas demais, há apenas a segunda aplicação para quem já deu início ao esquema vacinal.
Nas clínicas do Labi, presentes em cidades dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, assim como nas da Beep, no Rio, São Paulo e Distrito Federal, a vacina está disponível para agendamento e é encontrada por R$ 450 a dose.
O mesmo valor é praticado nas unidades do Richet Medicina Diagnóstica, marca da Rede D’Or no Rio de Janeiro. De acordo com o local, são utilizadas doses que já estavam em estoque.
Mas não são todas as redes que voltaram a oferecer a vacina. Nas drogarias Pacheco, São Paulo, DrogaRaia e DrogaSil, o agendamento do imunizante segue indisponível no site. O mesmo nas clínicas de vacinação da Panvel, na região metropolitana de Porto Alegre.
Quem pode tomar a vacina da dengue?
A vacina foi aprovada pela Anvisa em março do ano passado para pessoas entre 4 e 60 anos. Nos estudos clínicos, as duas doses demonstraram uma eficácia geral de 80,2% para evitar contaminações, e de 90,4% para prevenir casos graves.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) indica a proteção para todos que fazem parte do grupo etário elegível, tanto os que nunca tiveram a doença, como aqueles que já foram infectados antes.
A vacina não foi autorizada para maiores de 60 anos porque a faixa etária não foi contemplada nos estudos clínicos. Ao GLOBO, o presidente da Takeda Brasil disse que a farmacêutica tem desenhado já o estudo com idosos para conseguir a aprovação.
Além disso, as agências reguladoras da União Europeia e da Argentina deram o sinal verde para a Qdenga para todos a partir de 4 anos, sem limite de idade, por considerarem os potenciais benefícios da proteção entre os mais velhos, já que os idosos são mais suscetíveis a dengue.
Por isso, a SBIM afirma, em nota técnica, que “a recomendação para indivíduos 60+ deve ser encarada como uma indicação ‘off label’ (finalidade diferente da bula), a critério médico, respaldada pela aprovação por outras agências regulatórias, mas sem dados que atestem a segurança e a eficácia”.
Quem já teve dengue pode tomar a vacina?
Aqueles que já foram infectados com dengue também podem se vacinar. São casos em que a vacina é ainda mais benéfica já que uma segunda contaminação – possível pelo fato de o vírus ter quatro sorotipos – ser geralmente mais grave.
Quem não pode tomar a vacina contra a dengue?
Segundo a bula, a dose é contraindicada nos cenários abaixo:
- Alergia aos princípios ativos ou a qualquer um dos outros componentes da vacina, listados abaixo;
- Sistema imunológico (defesas naturais do corpo) comprometido, como devido a um defeito genético ou infecção por HIV;
- Uso de medicamento que afeta o sistema imunológico (tais como corticosteroides em doses altas ou quimioterapia). Seu médico não indicará QDENGA antes de 4 semanas de você parar o tratamento com esse medicamento;
- Mulheres grávidas;
- Mulheres durante a amamentação;
- Reação alérgica após receber a primeira dose. Os sinais de uma reação alérgica podem incluir erupção na pele com coceira, falta de ar e inchaço na face e na língua;
A lista com as substâncias que aqueles com hipersensibilidade devem evitar envolve:
- α,α-Trealose di-hidratada
- Poloxamero 407
- Albumina sérica humana
- Di-hidrogenofosfato de potássio
- Hidrogenofosfato dissódico
- Cloreto de potássio
- Cloreto de sódio
Muitas das contraindicações, como a para mulheres gestantes, são comuns às vacinas atenuadas, ou seja, as que são feitas com vírus enfraquecidos, capazes de induzir uma resposta imunológica, mas não de provocar uma infecção.
Alta da dengue e campanha inédita no SUS
A campanha de vacinação contra a dengue com a Qdenga no SUS é a primeira do mundo. Devido ao número limitado de doses, foram estabelecidos critérios de prioridade e podem receber a proteção apenas jovens de 10 a 14 anos de 1.920 municípios selecionados.
A campanha inédita ocorre em meio a um surto da doença também sem precedentes. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram 6,2 milhões de casos da arbovirose em 2024 até o fim de junho, um aumento de 344,5% em relação aos 1,4 milhões registrados no mesmo período do ano anterior.
O número deste ano também já ultrapassa em mais de 3,6 vezes o acumulado durante todo o pior ano da série histórica, 2015, quando foram 1.688.688 de diagnósticos. Além disso, segundo o painel de monitoramento global da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil lidera os casos de dengue no mundo, com 81,5% de todos os registros em 2024.
Em relação às mortes por dengue, o número também cresceu. O último boletim do ministério aponta que já foram 4.269 vítimas fatais neste ano, 327,3% a mais do que o registrado no mesmo período de 2023 – ano que bateu o recorde com 1.179 vidas perdidas pela doença. ( o Globo )
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