Suicídio pode ser evitado

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Talvez a maior parte dos leitores não saiba que, no Brasil, todos os dias, 38 pessoas, em média, abrem mão da própria vida, o que representa cerca de 14 mil casos de suicídio no decorrer de um ano ou o equivalente à queda de 70 aviões de 200 passageiros no mesmo período. Segundo os últimos dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), passa de 800 mil o número anual de suicídios no mundo, o que corresponde a um suicídio a cada 40 segundos.

Esses são os casos notificados e, dado o estigma que ronda o tema, calcula-se que a subnotificação esteja acima de 30%.

Embora os números sejam altos, o assunto suicídio continua sendo tratado como tabu, em geral vindo à tona apenas quando envolve uma pessoa conhecida ou quando causa especial comoção, como foi o recente caso de um jovem de 14 anos de idade, aluno de um colégio particular de São Paulo.

O suicídio entre jovens tem aumentado significativamente, o que faz acender um sinal de alerta. Segundo estudo do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde, da Fiocruz Bahia, a taxa de suicídios entre jovens de 10 a 24 anos teve alta de 6,14% a cada ano no período de 2011 a 2022, bem acima da média de 3,7% verificada na população geral. Um levantamento do Ministério da Saúde revelou que, de 2016 a 2021, houve elevação de 49,3% na taxa aferida entre jovens de 15 a 19 anos.

A sociedade precisa discutir o assunto com seriedade, e o governo tem de vê-lo como uma questão de saúde pública, como faz a OMS. Afinal, não se trata de casos isolados. O suicídio já é a quarta principal causa de morte entre jovens.

Há uma série de fatores, dos genéticos aos socioeconômicos, passando por exposição à violência, comportamento autolesivo, abuso de álcool, uso de drogas, sedentarismo, distúrbios do sono e até má alimentação, que contribuem para o desfecho trágico. Além disso, o risco de vir a tentar tirar a própria vida aumenta entre os que já tentaram fazê-lo antes e entre os que conheceram alguém que tenha concretizado o ato.

De resto, muitos casos estão relacionados à depressão e ao transtorno bipolar, doenças que, quando não são tratadas adequadamente, podem responder por até 80% dos casos de suicídio. . Diagnosticar o problema, sobretudo na infância e na adolescência, é, porém, um desafio. Quadros de irritabilidade ou de ansiedade, queixas de problemas físicos, alterações de humor, perda de concentração, falta de energia, descuido da aparência e da higiene, tristeza e excesso de autocrítica, além de baixo rendimento escolar e alteração no sono ou no apetite, podem ser sinais de que o jovem precisa de ajuda.

É muito importante que a família não subestime o problema, não trate o sofrimento do filho como se fosse preguiça ou indisciplina. Excesso de autocobrança, conflitos com os pais, decepção amorosa ou bullying podem atuar como estressores, espécie de gatilho que desencadeia o suicídio, o que pode fazer parecer que sejam as suas causas. Essa, no entanto, seria uma interpretação simplista de um quadro extremamente complexo. Em geral, o suicídio não tem uma causa única: fruto de um conjunto de elementos, é o desfecho de um longo processo, que pode ter origem em situações de estresse vividas na infância.

O desafio das famílias, dos educadores, dos profissionais de saúde e da sociedade como um todo é impedir que o suicídio se concretize. Em geral, quem sofre fornece sinais de que algo não vai bem. É preciso que todos se mobilizem para apoiar a quem precisa, conduzindo a pessoa a buscar tratamentos especializados. Existem fármacos muito eficientes, que, associados à terapia, podem evitar desenlaces traumáticos.

Os números alarmantes de suicídios no mundo todo e, particularmente, entre os jovens nos dizem, com muita ênfase, que também precisamos repensar nossa forma de viver.

 ( o Globo )

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Da Redação

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