O empresário Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma, pode voltar à cadeia por não pagar fiança no valor de R$ 25 milhões, condição estipulada pela Justiça paulista para a soltura dele e do também empresário Mário Otávio Gomes, diretor da Fast Shop — que obteve um habeas corpus na 11ª Câmara de Direito Criminal para suspender a obrigatoriedade do pagamento.
Oliveira e Gomes estavam detidos no 8º Distrito Policial (Belenzinho), na zona leste da capital paulista. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) enviou ofício, nesta quinta-feira (21/8), solicitando a prisão em caso de descumprimento de medidas cautelares estipuladas para que ambos respondam ao processo em liberdade — e que incluem o uso de tornozeleira eletrônica.
“Caso o valor arbitrado pelo juízo ainda não tenha sido depositado, requer o Ministério Público, desde já, a revogação da cautelar com a decretação da prisão preventiva do averiguado”, diz o documento assinado pelos promotores.
Condições para soltar investigados
- Comparecimento mensal em juízo, para informar e justificar atividades.
- Proibição de frequentar prédios relacionados com a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, salvo se devidamente convocados.
- Proibição de manter contato com demais investigados e testemunhas.
- Proibição de se ausentar da comarca, sem prévia comunicação ao Juízo.
- Recolhimento domiciliar noturno e nos dias de folga, após às 20h00.
- Monitoração (tornozeleira) eletrônica.
- Entrega de passaporte, no primeiro dia útil após a soltura.
- Recolhimento de fiança, que fixo em R$ 25 milhões, considerado o altíssimo poder econômico dos requeridos, bem como a gravidade concreta e o provável prejuízo aos cofres públicos, no prazo de 5 dias.
Auditor preso
O auditor Artur Gomes da Silva Neto teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Ele é tido como o principal operador do esquema e apontado de receber R$ 1 bilhão em propina por meio da empresa Smart Tax registrada no nome de Kimio Mizukami da Silva, mãe de Artur. O juiz Paulo Fernando Deroma De Mello acatou à demanda, dando mais cinco dias de detenção ao fiscal.
A Justiça ainda negou o pedido da defesa de Celso Eder Gonzaga de Araújo para conceder prisão domiciliar. Sócio de empresas que operavam no esquema fraudulento, Celso foi preso em Alphaville junto com a esposa, Tatiane da Conceição Lopes de Araújo, com R$ 1,2 milhão, R$ 200 mil em criptomoedas, US$ 10.700, relógios avaliados em R$ 8 milhões, e 1.590 euros. À Tatiane, foi concedida a prisão domiciliar.
Operação Ícaro
Sidney Oliveira e Mário Otávio Gomes foram presos no dia 12 de agosto no âmbito da Operação Ícaro, deflagrada pelo Gedec – grupo do MPSP – contra um esquema de propina para auditores fiscais da Secretaria da Fazenda, mediante a antecipação de créditos fiscais para as empresas.
O principal operador do esquema era o fiscal Artur Gomes da Silva Neto, acusado de receber pelo menos R$ 1 bilhão por meio da empresa Smart Tax, registrada no nome da mãe dele. O MPSP afirma que a mulher teve uma evolução patrimonial de R$ 411 mil para R$ 2 bilhões de 2023 a 2025.
O Gedec cogita a possibilidade de firmar um acordo de colaboração premiada com o fiscal, com objetivo de obter informações sobre outras empresas investigadas por envolvimento no esquema. Advogados dele chegaram a sinalizar interesse. Artur, no entanto, ainda não se manifestou oficialmente.
“Assessoria criminosa”
De acordo com o MPSP, a leitura dos e-mails ligados a Artur mostra que ele vinha prestando uma “verdadeira assessoria tributária criminosa”. Citando a atuação junto à Fast Shop, afirma a Promotoria, ele orientava os diretores da empresa sobre quais documentos deveriam ser colocados no procedimento, além de compilar os dados a serem enviados. Em síntese, a conduta apontada é que ele atuaria nas duas pontas: tanto como fiscal quanto representante das empresas por meio de uma consultoria de fachada em nome de sua mãe.
Os promotores dizem que ele também acelerava o ressarcimento dos créditos e deferia os valores para a empresa, além de autorizar a venda dos créditos a outras pessoas jurídicas.
“Ele conseguia créditos superiores àqueles que a empresa tinha apurado. Então, a gente tem provas de que a empresa tinha apurado um valor A de ressarcimento de crédito e ele conseguia ressarcir um valor B, que era muito superior”, afirmou o promotor João Ricupero, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), acrescentando que Artur garantia que os créditos não fossem revistos.
Tudo isso acontecia em troca de propina bilionária, segundo o MPSP. O auditor teria recebido cerca de R$ 1 bilhão desde 2021 para fraudar créditos tributários a favor das empresas. Na casa dele, o MPSP encontrou pacotes de dinheiro.
Além da Ultrafarma e da Fast Shop, as redes varejistas Oxxo e Kalunga são citadas como suspeitas de envolvimento no esquema bilionário de corrupção fiscal.
Em nota, a Ultrafarma informou que está colaborando com a investigação e que as informações veiculadas “serão devidamente esclarecidas no decorrer do processo e demonstrará a inocência no curso da instrução”.
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