Racismo no RS: foto mostra motoboy negro levado ao camburão enquanto agressor branco sorri com policial

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Um dos registros feitos por uma testemunha durante a abordagem policial contra um motoboy negro, em Porto Alegre (RS), mostra o momento em que a vítima, identificada como Éverton Guandeli, é levada à força ao camburão enquanto o suposto agressor — um idoso de pele branca — sorri ao conversar com uma das agentes que participou da ação. O caso aconteceu no último sábado (17), após o motoboy denunciar ter sofrido uma tentativa de homicídio.

A foto foi feita pelo professor de filosofia Renato Levin-Borges, que também filmou toda a ação da polícia no local. Em seu perfil na rede social, o professor caracterizou a abordagem como “racista” e disse que o idoso tentou esfaquear Éverton mais de um vez. O primeiro golpe teria sido dado no pescoço do motoboy, enquanto ele estava sentado.

A policia pegou o Éverton à força, com todo mundo dizendo que ele era vitima e tinha sofrido tentativa de homicídio, mas eles o empurram no camburão. Como a população continuou ali, foram até o prédio do homem branco, agressor, esperaram ele descer tranquilamente e o levaram para o banco de traz (da viatura) conversando sem nenhuma violência. Inclusive, no meio dessas gravações eu tirei essa foto que mostra o agressor sorrindo enquanto o Everton é violentamente jogado dentro do camburão — relata Renato no vídeo.

Ao GLOBO, o advogado da vítima, Ramiro Goulart, conselheiro estadual de Direitos Humanos no Rio Grande do Sul, disse que o agressor foi identificado como Sergio Camargo. Ele teria desferido golpes de faca contra Éverton após se incomodar com um suposto barulho dos motoboys na rua, em frente ao prédio em que mora. O idoso, segundo o advogado, desceu para tirar satisfação com os entregadores já com a faca em mãos, momento em que Éverton teria tentado apaziguar a situação e foi atingido no pescoço.

— Mais de cinco testemunhas alegaram que o caso começou após o Sergio se incomodar com a presença dos motoboys, que estariam ouvindo música. Não há razão específica contra o Éverton, o agressor estava desequilibrado e a vítima tentou tranquilizá-lo, mas foi atacada e ainda presa de forma agressiva — afirma.

Assim como as testemunhas, Goulart caracterizou a ação da polícia como “racista” ao relatar que houve uma “diferença brutal” na forma de tratamento da vítima perante o agressor. Éverton vai prestar depoimento nesta segunda-feira.

A reportagem ainda não conseguiu localizar a defesa de Sergio Camargo.

 

A ocorrência foi registrada por testemunhas. Nas imagens, é possível ouvir que o motoboy, identificado como Éverton Guandeli, pedia ao outro homem que “pegasse a faca” na frente dos policiais, que já estavam no local. Segundo Éverton e as testemunhas, o idoso teria tentado esfaqueá-lo momentos antes.

Em seguida, os agentes da Brigada Militar do Rio Grande do Sul tentam conter o motoboy, que rebate a abordagem: “Quem tá errado é ele, então me larga”. A partir deste momento, pelo menos quatro policiais da Brigada Militar do Rio Grande do Sul se envolvem na abordagem e iniciam constantes tentativas de imobilização do homem negro, que resiste.

Enquanto uma das agentes tenta algemar o motoboy, testemunhas gritam e tentam dizer aos policiais que o outro homem, um idoso de pele branca, era o responsável pela tentativa de esfaqueamento. Ele circulava livremente pela calçada. Por fim, Éverton é detido. O agressor somente teria sido preso após ir em casa e voltar ao local da ocorrência.

Com a repercussão do caso nas redes sociais, o ministro Silvio Almeida afirmou que o homem negro foi “tratado como criminoso”, e que a conduta dos policiais demostra “a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes”.

Neste domingo, a ministra Anielle Franco se pronunciou sobre o caso em seu perfil no Instagram, e disse que trabalhará pela “responsabilização”.

Segundo a TV RBS, foi registrado boletim de ocorrência por lesão corporal. De acordo com a Polícia Civil, o homem negro teve escoriações no pescoço, possivelmente provocadas pela faca, e o homem branco teve escoriações na perna. O motoboy também teria registrado ocorrência por abuso de autoridade contra a Brigada Militar.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou, neste domingo, que determinou abertura de sindicância para que a Corregedoria da Brigada Militar do estado apure as circunstâncias da abordagem. Na mesma publicação, Leite reforça a “confiança” que tem “nos homens e mulheres que compõem as forças de segurança”. ( o Globo )

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Da Redação

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