Quando uma nota oficial complica o que já estava mal explicado

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O prefeito de Tutóia, senhor Viriato Cardoso, usou suas redes sociais para “tentar explicar” o que, segundo ele, seriam boatos infundados. O problema? A Nota Oficial parece atirar numa direção enquanto o alvo está em outra, transformando a tentativa de explicação num autêutico tiro pela culatra.
Comecemos pelo básico. Qualquer dicionário decente explica que BOATOS são rumores, distorções de algo que poderia até conter um fundo de verdade. INFUNDADO, por outro lado, é algo sem base ou compromisso com a realidade. Logo, o uso da expressão “boato infundado” é uma redundância tão desnecessária quanto confusa.

Basta escolher: é boato ou é infundado. Por que complicar?

No primeiro parágrafo, a Nota tenta esclarecer a suposta inexistência de um “conflito físico” entre o prefeito e o diretor do hospital municipal, Jedaias. Infelizmente, a construção da frase é (novamente) tão confusa que não esclarece nada. O que o prefeito quis dizer, afinal? Que não houve conflito algum ou que, existindo, apenas se nega sua ocorrência? Para piorar, mesmo que aceitemos com certa dose de boa vontade acreditar na palavra do gestor, a frase deixa no ar outra questão: SERÁ QUE HOUVE ALGUM TIPO DE AGRESSÃO QUE NÃO FOSSE FÍSICA? AFINAL, CONFLITOS VERBAIS TAMBÉM PODEM RENDER PROCESSOS.

O segundo parágrafo reforça ainda mais a bagunça. Agora o prefeito assegura que “nunca houve qualquer tipo de agressão ou situação de confronto físico”. E novamente surge a pergunta: ok, não foi físico, mas então foi o quê? Um debate caloroso? Uma discussão filosófica? Um amistoso duelo de palavras cruzadas? Não sabemos, porque a Nota prefere manter o suspense.

Como se não bastasse, surge a teoria conspiratória: os tais “boatos” fariam parte de uma “estratégia clara de desestabilização da nossa gestão”. Estratégia clara, sr. prefeito? Tão clara que o senhor esqueceu de explicar quais seriam os agentes por trás dela, seus motivos ou mesmo os meios usados nessa suposta cruzada contra a gestão municipal. É quase como assistir a um filme sem roteiro: muito drama, mas pouca história.

Agora chegamos à cereja desse bolo mal assado. O prefeito conclui responsabilizando o indefinido “descontentamento de grupos que não aceitaram o resultado das últimas eleições”. Ah, o clichê favorito de políticos em apuros! Quem são essas pessoas? Que grupos são esses? E como exatamente eles representam uma ameaça tão grande a ponto de deixar a gestão municipal “instável”? Se são tão poderosos assim, talvez mereçam uma cadeira no próprio governo.

Por fim, numa jogada digna de aplausos – pela audácia, não pela competência – o prefeito ainda terceiriza para a população a responsabilidade de “focar no desenvolvimento do município”. Desculpe, sr. Viriato, mas quem deve focar na gestão e nos problemas é o senhor. A população já fez a parte dela ao votar. Talvez seja o caso de deixar as fofocas de lado e dedicar mais tempo a administrar o município. Ou, quem sabe, criar a tão necessária “Secretaria Municipal de Contra-Informação”. Afinal, em Tutóia, o que não falta são “boatos infundados” para gerir.

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Da Redação

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