O presidente suspenso da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, autorizou os militares a disparar suas armas, se necessário, para entrar no Parlamento durante sua tentativa fracassada de impor a lei marcial, de acordo com um relatório da promotoria visto pela AFP neste sábado.
O resumo de 10 páginas do relatório de acusação do ex-ministro da defesa Kim Yong-hyun, que foi fornecido à mídia internacional, também diz que Yoon prometeu em 3 de dezembro declarar a lei marcial três vezes, se necessário.
Yoon, que foi destituído de suas funções pela Assembleia Nacional neste mês, está sob investigação por sua tentativa de curta duração de acabar com o governo civil, que mergulhou o país em turbulência política e levou ao seu impeachment.
O advogado de Yoon, Yoon Kab-keun, rejeitou o relatório dos promotores, dizendo à AFP que era “um relato unilateral que não corresponde nem às circunstâncias objetivas nem ao senso comum”.
Enquanto os legisladores corriam para o Parlamento em 3 de dezembro para votar contra a declaração de lei marcial de Yoon, tropas fortemente armadas invadiram o prédio, escalando cercas, quebrando janelas e pousando de helicóptero.
De acordo com o relatório de acusação da promotoria, Yoon disse ao chefe do comando de defesa da capital, Lee Jin-woo, que as forças militares poderiam atirar se necessário para entrar na Assembleia Nacional.
— Você ainda não entrou? O que você está fazendo? Arrombar a porta e arrastá-los para fora, mesmo que isso signifique atirar — Yoon disse a Lee, de acordo com o relatório.
Yoon também supostamente disse ao chefe do Comando de Contrainteligência de Defesa, General Kwak Jong-keun, para “entrar rapidamente” na Assembleia Nacional, já que o quórum para a declaração da lei marcial ser derrubada não havia sido atingido.
— Então entre rapidamente na Assembleia Nacional e traga as pessoas para dentro da câmara, e arrombe as portas com um machado se necessário e arraste todos para fora — disse Yoon, ainda de acordo com o relatório.
Depois que os legisladores correram para dentro do Parlamento e votaram (190 a 0) para anular a declaração de Yoon nas primeiras horas de 4 de dezembro, o relatório diz que Yoon disse a Lee:
— Mesmo que seja suspensa, posso declarar lei marcial uma segunda ou terceira vez, então continue.
O relatório também incluiu capturas de tela de mensagens de altos funcionários da defesa no dia da declaração da lei marcial. Há evidências de que Yoon discutia a declaração da lei marcial com altos funcionários militares já em março.
A declaração ocorreu após uma disputa orçamentária entre o partido de Yoon e a oposição. Dias depois, Yoon disse em um discurso que se desculpou pela “ansiedade e inconveniência” e prometeu que não haveria uma segunda declaração de lei marcial.
O ex-ministro da defesa Kim foi preso este mês por seu papel na tentativa fracassada. O parlamentar do Partido Democrata da oposição Kang Sun-woo disse em uma declaração no sábado que “a promotoria expôs a verdade inegável e feia sobre Yoon Suk-yeol, o líder traidor”, acrescentando que ele deve ser “preso imediatamente”.
O Tribunal Constitucional da Coreia do Sul realizou sua primeira audiência preliminar sobre a validade do impeachment de Yoon na sexta-feira, com a presença da equipe jurídica do presidente suspenso.
O tribunal também decidirá o destino do substituto de Yoon, Han Duck-soo, que foi afastado do cargo de presidente interino nesta sexta-feira por sua recusa em concluir o processo de impeachment de Yoon e levá-lo à justiça.
( o Globo )
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