A Polícia Federal (PF) revelou que uma quadrilha que fraudava empréstimos bancários, desarticulada na semana passada no Rio de Janeiro, movimentou mais de R$ 2 bilhões em 334 empresas fantasmas nos últimos 25 anos. O esquema era operado pelo empresário Jobson Batista, um ex-oficial da Marinha Mercante que contratava os empréstimos em instituições financeiras para essas firmas de fachada e não os quitava. Considerado pela PF um dos maiores estelionatários do país, Jobson cooptava, segundo as investigações, gerentes de bancos públicos e privados para a liberação dos valores.
Esses profissionais recebiam agrados, que incluíam uísques, celulares e um percentual do dinheiro pactuado. Os detalhes de como o bando agia foram mostrados ontem pelo “Fantástico”, da TV Globo, que chamou o empresário de o “Rei dos Empréstimos”.
Segundo a reportagem, as empresas fantasmas eram criadas em nome de laranjas, que forneciam seus dados por recompensas bem mais modestas — um morador de rua, por exemplo, aceitou ceder números de seus documentos em troca de cachaça.
— As empresas não tinham qualquer produção. Elas não vendiam qualquer produto. Simplesmente, existiam de forma contábil. Então, elas estavam todas regulares, só que não tinha um funcionário, não tinha nenhum produto, não tinha nenhum estabelecimento — explicou Bruno Bastos Oliveira, delegado da PF, ao Fantástico.
De acordo com a PF, tudo começou no início dos anos 2000, em Itaipuaçu, na Região Metropolitana do Rio, onde Jobson mantinha, à época, uma empresa de material de construção que vivia uma crise. Ele resolveu pegar empréstimos e, para conseguir a liberação, foi criando empresas falsas. Após conseguir o dinheiro, fez do crime uma rotina. As empresas eram abertas com ajuda de contadores, que fingiam ter dado baixa em CNPJs reais quando, na verdade, os transferia para laranjas, transformando-os em empresas de fachada.
— Uma vez obtido o empréstimo em nome da empresa de fachada, eles começavam a pagar as primeiras parcelas, para que não notassem que se tratava de fraude. Após o pagamento de algumas parcelas, cerca de 10,12, eles paravam de pagar. E, então, parecia que a empresa tinha ficado inadimplente e que tinha tido dificuldade financeira, quando, na verdade, era fraude desde o início — detalha Oliveira.
Houve casos em que a oferta de empréstimo partia do próprio gerente das instituições financeiras, como o de um banco público, que disse que tinha uma linha de crédito de cerca de R$ 100 mil para empresas de placas de painel solar. Em pouco tempo, Jobson já tinha um CNPJ do ramo e a lista de clientes interessados nas placas fotovoltaicas. Um dos endereços onde o item seria instalado era um imóvel onde o empresário morava em Niterói.
O empresário e sua mulher, Cláudia Márcia, foram presos na última quinta-feira (21), num condomínio de luxo onde moram, em Piratininga, em Niterói, na Região Metropolitana, junto com a mulher. De acordo com a investigação, o imóvel foi adquirido para lavar dinheiro fruto dos golpes. Outros oito integrantes da quadrilha também foram detidos. Jobson já havia sido preso em 2024, após um dos laranjas ser detido numa agência bancária tentando sacar dinheiro com documento falso. Na delegacia, o empresário revelou para a polícia detalhes do esquema e tentou subornar o delegado. Acabou atrás das grades por corrupção ativa. Seis meses depois, em novembro, deixou a cadeia, sob monitoramento de uma tornozeleira eletrônica. Agora, voltou à mira da polícia após a investigação descobrir que ele manteve as fraudes dentro da prisão e depois de sair.
Eles vão responder por estelionato qualificado, organização criminosa, lavagem de dinheiro, além de financiamento fraudulento.
Advogado do casal, Jair Pionetto, disse, em nota, que a inocência deles ficará comprovada no curso do processo. Já a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que repudia qualquer envolvimento de funcionários em ações criminosas e que faz treinamentos periódicos para que eles identifiquem e reportem transações suspeitas.
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