Nos últimos anos, um fluxo migratório silencioso, mas significativo, tem chamado atenção: centenas de maranhenses estão deixando seu estado natal e buscando novas oportunidades em Santa Catarina — um estado geograficamente e culturalmente distante, e com uma identidade política oposta à do Maranhão.
De um lado, temos o Maranhão: um estado historicamente marcado por desigualdade social, alta dependência do poder público, baixa industrialização e uma estrutura de oportunidades ainda limitada, especialmente para os jovens. Do outro, Santa Catarina: estado com altos índices de desenvolvimento humano, forte industrialização, oferta de empregos com carteira assinada e um sistema econômico que, embora desigual em alguns aspectos, oferece melhores condições materiais de vida.
A pergunta que precisa ser feita é: por que tantos maranhenses optam por esse destino em específico — e não por estados vizinhos ou até mesmo pela capital federal?
A resposta passa por três fatores principais:
1. Oportunidade de trabalho formal e salários melhores
Santa Catarina, com seu parque industrial robusto, demanda mão de obra — especialmente para áreas operacionais, construção civil, frigoríficos, logística e comércio. A informalidade, que atinge níveis alarmantes no Maranhão, dá lugar a um mercado com maior formalização e direitos trabalhistas minimamente garantidos. Para milhares de maranhenses, isso já representa um avanço imenso.
2. Rede de apoio migrante consolidada
Quem vai, chama outro. Cidades como Joinville, Itajaí, Balneário Camboriú e Blumenau já abrigam comunidades maranhenses numerosas, que oferecem abrigo, suporte e informações para os que chegam. Essa rede facilita a adaptação e garante que os custos da migração — sempre altos — sejam reduzidos.
3. Desilusão com o futuro no Maranhão
Mais do que esperança no novo, há um cansaço com o velho. Muitos que partem não o fazem por afinidade política ou ideológica com Santa Catarina, mas por desilusão com as promessas que nunca se concretizam no Maranhão. A estagnação econômica, os baixos salários, a precariedade da educação e da saúde pública, e a política baseada em oligarquias e assistencialismo empurram os maranhenses para longe.
É irônico que um dos estados mais bolsonaristas do Brasil, cuja elite muitas vezes se mostra xenofóbica ou preconceituosa com os nordestinos, seja justamente o destino de tantos que buscam o que não encontram em seu próprio chão. Mas o que move essas pessoas não é ideologia: é necessidade. Não importa o voto, a bandeira ou o sotaque. O que importa é sobreviver, pagar as contas, estudar, crescer.
Essa realidade escancara uma ferida que a elite política maranhense se recusa a encarar: o estado segue exportando sua população porque não consegue oferecer dignidade em larga escala. Enquanto Santa Catarina atrai com emprego, infraestrutura e estabilidade, o Maranhão expulsa com promessas vazias, paternalismo e ausência de um projeto de futuro.
A migração dos maranhenses para o Sul do Brasil não é apenas um fenômeno demográfico. É um grito silencioso — e coletivo — de que algo está muito errado. E que, se ninguém mudar a rota, o Maranhão continuará perdendo seu maior patrimônio: sua gente.
Imaranhense
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