Era uma vez um convite irresistível. Marília, minha namorada, olhou nos meus olhos e disse: “Vamos para Brasília?” Eu, que não sou bobo nem nada, pensei: “Opa, passeio, restaurantes, igrejas, exposições… e ainda a beleza da Marília!” Quem recusaria? Mal sabia eu que essa viagem ia virar quase um roteiro de filme!
Chegamos em Brasília no dia 7 de janeiro. A cidade muita mais linda, aquela coisa modernista de Niemeyer que sempre parece que estamos dentro de um catálogo de arquitetura. Comemos num Madero, depois no Outback, passeamos pela frente da Esplanada, tiramos selfies no Congresso e até visitamos a Catedral, a melhor obra do Oscar, para mim, que nada entendo de arquitetura. Turismo raiz!
Mas eis que chega o dia 8. O tal momento histórico da democracia. Eu, que achava que ia ver uma festa cívica com bandeiras tremulando, crianças cantando o hino e um clima de feriado prolongado, me deparei com algo um pouco diferente.
-Vamos voltar para o hotel e fazer como os japoneses e coreanos fazem no Distrito Industrial de Manaus. Levam os compradores para dentro das suas fábricas e moem os coitados para obtenção do menor preço. No terreno dos outros valemos muito pouco.
– Marí, vamos ficar por aqui porque se esse negócio degringolar, poderemos ser presos na terra dos outros, e até os nossos políticos amigos nos tirarem, vamos passar uns três dias sem banho e churrasco. Já se fala em 17 anos de prisão como se fossem 17 minutos.
De repente, era um vai e vem de gente correndo, um zum-zum-zum de discursos inflamados, e um cheiro de protesto no ar. Olhei para Marília e perguntei: “Isso aí é uma manifestação política ou um bloco de Carnaval fora de época?”
A resposta veio rápido: tinha de tudo! Uns queriam cantar o hino, outros gritavam palavras de ordem, e alguns pareciam perdidos, como se tivessem caído de paraquedas. O curioso é que não vi líder puxando golpe, nem exército apontando canhão, nem nada dessas coisas que a gente vê em filme de revolução. Era mais um grande protesto, bastante desorganizado, bem confuso, mas, até então, nada que justificasse a histeria que viria depois.
E foi aí que tudo degringolou. Em questão de minutos, a coisa virou confusão. Gente subindo rampa, gente pulando cerca, gente filmando tudo como se fosse um reality show. Aí, quando vi a primeira vidraça quebrada, belisquei Marília no braço e falei: “Vamos desligar que isso já era. Daqui pra frente só vai dar mierda! E vemos, agora, filmes dos verdadeiros democratas, dando as cartas para profissionais da arruaça.
Saímos dali e fomos terminar nosso passeio num café, enquanto a TV explodia em manchetes apocalípticas. Era golpe, revolução, guerra civil, tudo ao mesmo tempo, segundo os jornalistas de plantão. Mas peraí… golpe sem armas? Sem tanques? Sem apoio militar? Como é que se faz um golpe com camiseta amarela e celular na mão? No mínimo, um golpe bem esquisito. Só pode ser um Golpe Tamoio, mas, mesmo os tamoios, levariam suas bordunas e seu cacique.
No dia seguinte, a ressaca foi grande. O Brasil amanheceu dividido entre os que acharam que tinha sido a terceira guerra mundial e os que viram um protesto que passou do ponto. Marília e eu só queríamos saber de uma coisa: “quêdê” o nosso passeio? “quêdê” nossa visita aos museus? No fim, nosso 8 de janeiro virou história para contar, mas não da forma que imaginávamos.
Presidente Hugo Motta, vimos o seu posicionamento sobre a “opinião” de ministros e procuradores e ainda expôs as performances feitas, pela Turma do MST, nos mesmos lugares sagrados da democracia. Hoje, em tempos de inteligência artificial, já não sabemos em quem acreditar. Tenho a certeza que Vossa Excelência pedirá aos seus comandados, para buscarem a impressão dos seus eleitores nos mais escondidos municípios do nosso Brasil, chegando, em Brasília, para votar certo, sobre este triste momento em que a liberdade e a democracia estão sendo torturadas. Deve ter muita gente que não sabe que o azar, a levou para aqueles locais.
Moral da história: nunca subestime o poder de um convite para um simples passeio. Já pensaram: eu, com 17 anos no costado, porque fui comer um bacalhau em Brasília. Eu ficaria muito p da vida. Acredito que existam muitos, muito mais que p.
Às vezes, você acaba no meio de um dos dias mais polêmicos da História Política do Brasil… sem nem saber direito como chegou e escapou de lá! Muita sorte e santo forte!
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