Número de mortos por incêndios florestais sobe para 112 no Chile

Estimated read time 7 min read

O número de mortos devido aos incêndios florestais que assolam o Chile, em especial a região centro-sul, desde sexta-feira, subiu para 112 pessoas neste domingo, informou o Ministério do Interior. As chamas, que já deixaram corpos nas ruas e casas destruídas, continuam se espalhando e a expectativa é que o número de mortos aumente. Em uma publicação nas redes sociais, o presidente chileno, Gabriel Boric, anunciou que está em Valparaíso, uma das províncias mais atingidas. Boric decretou estado de emergência na região “devido à catástrofe”.

 Esse número vai aumentar, sabemos que vai aumentar significativamente — disse o presidente na cidade de Quilpué, uma área de colinas povoadas nos arredores de Viña del Mar.

Uma densa fumaça cinza cobriu a cidade turística, forçando os moradores a fugir. Rosana Avendano, uma assistente de cozinha de 63 anos, estava fora quando o fogo começou a varrer sua casa, no bairro de El Olivar, onde ela mora com o marido.

— Foi terrível porque eu não conseguia chegar [à minha casa]. O fogo chegou aqui… perdemos tudo — disse Avendano à AFP. — Meu marido estava deitado e começou a sentir o calor e fugiu.

Ela temeu o pior por horas, mas acabou conseguindo entrar em contato com o companheiro.

‘Mais vítimas’ desde terremoto

 

Do total de mortos, até agora apenas 32 foram identificados. Também foram realizadas 25 autópsias, segundo o Serviço Médico Legal.

— Será provavelmente a situação de emergência, depois do terremoto de 2010, que gerou mais vítimas no Chile nos últimos tempos — disse a ministra do Interior Carolina Tohá.

Uma equipe de resgate salva animais durante um incêndio florestal nas colinas da comuna de Quilpe, região de Valparaíso, Chile. — Foto: JAVIER TORRES/AFP
Uma equipe de resgate salva animais durante um incêndio florestal nas colinas da comuna de Quilpe, região de Valparaíso, Chile. — Foto: JAVIER TORRES/AFP

As autoridades impuseram um toque de recolher a partir das 21h de sábado, para permitir a entrada de suprimentos de emergência — especialmente combustível — nas áreas afetadas. Novas ordens para deslocamento foram emitidas, embora não tenha ficado claro quantas pessoas foram instruídas a sair. O presidente do Chile também afirmou que as rede de saúde pública e privada estão coordenadas para atender os feridos.

 

Boric expressou condolências aos familiares, amigos e entes queridos dos mortos, enviou um “grande abraço” aos que perderam suas casas, e agradeceu “profundamente aos que estão dando o melhor de si para combater esta tragédia”.

Em uma publicação no X (antigo Twitter) neste domingo, o líder chileno disse que estava a caminho de Valparaíso para se reunir com autoridades locais, vítimas da tragédias e para “ver in loco onde devemos apertar os parafusos para prestar mais e melhor apoio neste momento difícil”. “Uma vez apagado o incêndio, virá a fase de cadastro, ajuda antecipada e reconstrução. Nos colocaremos de pé.”

Outras publicações mostram imagens de brigadistas, o encontro de Boric com autoridades locais, e sua visita a um hospital local ao lado da ministra da Saúde, Ximena Aguilera.

No início do sábado, a ministra do Interior disse que havia 92 incêndios até o meio-dia, com 43 mil hectares queimados em todo o país. À tarde, os bombeiros ainda estavam lutando contra 29 focos de incêndio, enquanto 40 já estavam sob controle.

Nas encostas ao redor da cidade litorânea de Viña del Mar, blocos inteiros de casas foram queimados durante a noite de sábado, quando milhares de pessoas que haviam sido deslocadas voltaram e encontraram suas casas destruídas. Alguns dos mortos foram vistos deitados na estrada, cobertos por lençóis.

A área, cerca de uma hora e meia a noroeste da capital, Santiago, é um destino turístico popular durante os meses de verão. A região costeira também é importante para os setores vinícola, agrícola e madeireiro do país. Nas cidades de Estrella e Navidad, a sudoeste da capital, os incêndios queimaram cerca de 30 casas e forçaram deslocamentos perto do resort de surfe de Pichilemu.

— É muito angustiante, porque deixamos nossa casa, mas não podemos seguir em frente — disse Yvonne Guzman, de 63 anos, que fugiu de Quilpué com sua mãe idosa, mas ficou presa no trânsito por horas. — Há todas essas pessoas tentando sair e não conseguem se mover.

A prefeita de Viña del Mar, Macarena Ripamonti, disse, que a cidade estava enfrentando “uma catástrofe sem precedentes”. Segundo ela, há 372 pessoas ainda desaparecidas em seu município, enquanto 83 que estavam nessa situação foram encontradas.

— Uma situação dessa magnitude nunca aconteceu na região de Valparaíso.

‘Chovendo cinzas’

 

Vários milhares de hectares foram queimados somente em Valparaíso, de acordo com a Conaf, a autoridade florestal nacional do Chile. Imagens de motoristas presos se tornaram virais na Internet, mostrando montanhas em chamas no final da famosa “Rota 68”, uma estrada percorrida por milhares de turistas para chegar à costa do Pacífico.

Além de Valparaíso, os bombeiros e a equipe de serviços de emergência estavam combatendo as chamas no centro e no sul do Chile, incluindo O’Higgins, Maule, Biobio, La Araucania e Los Lagos. Na sexta-feira, as autoridades fecharam a estrada que liga Valparaíso à capital, pois uma enorme nuvem de fumaça em forma de cogumelo “reduziu a visibilidade”.

— Foi um inferno — disse à AFP Rodrigo Pulgar, que perdeu sua casa na cidade de El Olivar, no interior do país. — Tentei ajudar meu vizinho… minha casa estava começando a queimar atrás de nós. Estava chovendo cinzas.

Vista aérea de veículos queimados na comuna de El Olivar após um incêndio florestal que afetou as colinas de Viña del Mar, Chile. — Foto: JAVIER TORRES/AFP

Onda de calor

 

Os incêndios estão sendo provocados por uma onda de calor de cerca de 40ºC e seca de verão que afeta a parte sul da América do Sul, causada pelo fenômeno climático El Niño. Cientistas alertam que o aquecimento do planeta aumentou o risco de desastres naturais, como calor intenso e incêndios.

“Uma mudança de apenas alguns graus no Pacífico Tropical pode fazer a diferença entre uma época de incêndios florestais relativamente amena e uma catástrofe generalizada”, explica o climatologista Raúl Cordero num estudo publicado recentemente na Scientific Reports, da editora Nature.

Apesar disso, Boric também não descarta a possibilidade de que a atual tragédia poderia ter sido causada de maneira intencional.

— Uma eventual intencionalidade por trás destes incêndios está sendo investigada e, embora seja difícil imaginar quem poderia estar disposto a causar tanta tragédia e dor, saiba que será investigado em toda a extensão e com todos os recursos necessários — alertou o presidente chileno.

O tema também foi abordado pela ministra do Interior e Segurança Pública, Carolina Tohá, que disse ter provas de que, pelo menos no incêndio de Las Tablas, em Viña del Mar, cidade a cerca de 120 quilômetros de Santiago, houve focos intencionais. Segundo a Conaf, 99,7% dos incêndios têm origem intencional ou por imprudência.

 

A promotora regional de Valparaíso, Claudia Perivancich, disse à CNN Chile, que “há indícios preliminares” de intencionalidade.

— Detectamos diversas fontes de incêndio que teriam ocorrido simultaneamente, e isso é uma poderosa indicação.

Enquanto o Chile e a Colômbia lutam contra o aumento das temperaturas, a onda de calor também está ameaçando varrer o Paraguai e o Brasil. Na Argentina, brigadas de várias províncias estão combatendo um incêndio que consumiu mais de 3 mil hectares no Parque Nacional Los Alerces, famoso por sua beleza e biodiversidade, desde 25 de janeiro.  ( o Globo )

Relacionadas

Da Redação

+ There are no comments

Add yours

Deixe uma resposta