No dia em que os Lençóis Maranhenses recebem o título de Patrimônio Natural da Humanidade, confira a poesia em forma de música Ícone das Américas, do cantor Godinho, em homenagem a Barreirinhas

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A letra de “Ícone das Américas… Barreirinhas!” transcende a simples descrição geográfica, mergulhando em uma profunda conexão entre o ser humano e a natureza, permeada por elementos de contemplação, identidade e atemporalidade. Walasse Godinho, por meio de sua poesia, convida à reflexão sobre a essência de um lugar e seu impacto na experiência humana.

A personificação de Barreirinhas como um ser — “Te vejo toda azul entre o céu e o mar, linda e clara, lençóis ao vento” — é um ponto de partida filosófico crucial. Não se trata apenas de uma paisagem, mas de uma entidade que “se veste” com as cores do céu e do mar, cujos “lençóis ao vento” sugerem movimento e respiração. Essa visão panteísta, em que o divino se manifesta na natureza, evoca a ideia de que Barreirinhas possui uma alma, uma consciência que interage com o observador. O “azul” pode simbolizar serenidade, imensidão e profundidade da existência — qualidades que a natureza, em sua grandiosidade, reflete.

A passagem “Quando o sol da manhã beijar você pra…” introduz a dimensão do tempo e da revelação. O “beijo do sol da manhã” é um ato de criação e renovação diária, um renascer que expõe a beleza de Barreirinhas “para o mundo”. Isso reforça a noção de que a identidade e o encanto de um lugar são eternos, manifestando-se ciclicamente a cada amanhecer. Aqui, a natureza transcende o efêmero e torna-se um símbolo de permanência.

Os versos “Entre Atins e Mandacaru, navegando de canoa no seu leito preguiçoso” descrevem não apenas um trajeto físico, mas uma jornada interior. A “canoa” e o “leito preguiçoso” do rio funcionam como metáforas para a lentidão, a introspecção e a fluidez da vida. É nesse ritmo que a verdadeira essência de Barreirinhas se revela, convidando à contemplação e à imersão. A ausência de pressa permite uma conexão mais profunda com o ambiente, transformando a observação em experiência e a paisagem em um estado de espírito. Tal perspectiva dialoga com a filosofia da atenção plena, em que o presente é o foco central.

A culminação poética se dá em “Lagos, dunas e faróis, santuário de cristal e rio se encontra com o mar…”. A palavra “santuário” eleva a paisagem a um espaço sagrado, local de reverência e pureza, onde a beleza natural é cristalina e intocada. O “cristal” simboliza não apenas a transparência das águas, mas também a perfeição e a preciosidade da criação. A imagem do “rio se encontra com o mar” é uma metáfora poderosa para a confluência de opostos — o encontro de elementos distintos que se fundem em uma unidade maior. Filosoficamente, isso representa a harmonia entre finito e infinito, particular e universal, terrestre e cósmico.

Nesse ponto de encontro, manifesta-se a totalidade da existência, e Barreirinhas se transforma em um microcosmo onde tudo se conecta. A letra de Walasse Godinho é, assim, um convite à reflexão sobre a interdependência entre ser humano e natureza, a eternidade da beleza, a importância da jornada contemplativa e a sacralidade dos espaços naturais.

Barreirinhas, em sua descrição, não é apenas um lugar, mas um estado de ser — um espelho no qual a alma humana pode reencontrar a sua própria essência.

Prof. Me. Waldineis Brito
São Luís/MA, 01 de julho de 2025.

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