Marco Túlio Davi, com 15 milhões de seguidores, diz que influencers precisam estudar

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Criador de vídeos curtos sobre profissões no Brasil, o influenciador Marco Túlio Davi acumula hoje mais de 15 milhões de seguidores somando todas as plataformas.

Mineiro de Uberlândia, com 32 anos, ele viraliza ao interpretar diferentes personagens do cotidiano: professor, gari, camelô, agente funerário, padeiro. Tudo roteirizado, gravado e interpretado por ele mesmo. Com a esposa, irmã e um amigo atrás das câmeras trabalhando com ele.

A popularidade, no entanto, não veio de repente. Marco é formado em administração pela Universidade Federal de Uberlândia e passou nove anos atuando no setor bancário, chegando ao cargo de gerente.

Foi durante a pandemia, em 2021, que ele decidiu mudar de vida —após pedir para ser desligado do emprego, apostou na criação de conteúdo na internet como profissão. “Eu não rasguei meu diploma, mas ressignifiquei ele”, diz.

A história de Marco é um retrato do que muitos jovens querem para o futuro: trabalhar com internet. De acordo com um levantamento feito em 2022 pela INFLR, startup especializada em marketing de influência, 75% dos jovens do país sonham em ser influencers.

A questão, para ele, é que falta preparo aos mais jovens. “Um influenciador tem muita responsabilidade. Ele precisa estudar, saber se comunicar, entender de política, sociedade. Influenciar não é só entreter”, diz.

“Antes de ser criador, eu fui bancário. Tive chefe, engoli sapo, participei de reunião. Isso forma caráter. Muita gente quer pular essa etapa.”

Ele conta que levou dois anos até conseguir ganhar o suficiente para se sustentar com os vídeos.

“Comecei ganhando permuta e R$ 50. Eu tinha que explicar para o dono da lanchonete o que era um influenciador.”

Hoje, sua receita é formada majoritariamente por publicidade (70%) e monetização das plataformas (30%), incluindo TikTok, YouTube e Instagram.

O apego ao estudo vem da própria criação, segundo ele. Filho de uma dona de casa e de um torneiro mecânico (profissão que homenageou em um vídeo recente), Marco diz ter sido criado com poucos luxos e muitos limites.

“Na minha casa, presente só se fosse por mérito. Minha mãe cobrava nota; meu pai, ética”, conta. “Fui o representante de todas as turmas em que estudei, sempre gostei de me destacar.”

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Esse gosto pela performance o levou, anos depois, a cursar teatro e tirar o registro profissional de ator. A profissionalização do conteúdo, segundo ele, mudou sua relação com o trabalho. “Não dá para fazer conteúdo e manter outro emprego. É uma carreira como qualquer outra. Tem planejamento, equipe, rotina.”

Apesar da estabilidade na internet, o influenciador diz que quer trabalhar com audiovisual tradicional. “Queria fazer uma novela, um filme, estar no streaming. Mas também sei que não posso depositar tudo nisso —tem muito nepotismo, muita indicação”, afirma. “Eu sou pé no chão. Minha profissão é a de criador de conteúdo.”

Ao mesmo tempo em que acompanha o crescimento da carreira, Marco diz se preocupar com o modelo de sucesso vendido nas redes. “O Brasil é muito desigual. Nem todo mundo pode passar dois anos sem renda esperando algo vingar. Eu me preparei para isso, quitei apartamento, estudei. Tem gente que não tem essa chance.”O influenciador digital Marco Túlio Davi

A solução, segundo ele, é equilibrar ambição e realidade. Mas isso começa estudando, trabalhando, entendendo o que é ser profissional.

Para o futuro, ele ainda sonha em dobrar o seu número de seguidores, trabalhar com cinema, melhorar a qualidade de vida da família e continuar, como diz, fazendo aquilo em que acredita.

“Recebo mensagem de gente que estava na UTI, com câncer, e diz que sorriu vendo um vídeo meu. Isso para mim é mais importante que qualquer número.”

 

Folha de São Paulo

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Da Redação

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