Lula se diz feliz com eleição na Venezuela: ‘Se candidato da oposição tiver o comportamento daqui, nada vale’

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira que está feliz com a escolha da data para a eleição na Venezuela, marcada para 28 de julho, dia do aniversário de Hugo Chávez — o anúncio da data escolhida foi feito nesta terça-feira 5 de março, quando completaram-se 11 anos da morte do ex-presidente (1999-2013).

Questionado se é possível ter uma eleição justa no atual contexto, o chefe de Estado brasileiro afirmou que olheiros do mundo inteiro foram convidados a acompanhar o pleito. Lula fez a ressalva, porém, de que, mesmo com a presença dos olheiros, se a oposição venezuelana tiver o mesmo comportamento da brasileira, “nada vale”.

 Sabe que eu fiquei feliz que foi marcada eleição na Venezuela. O que disseram na reunião que tive na Guiana é que vão convidar olheiros do mundo inteiro. Mas se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento da oposição daqui, nada vale.

Mais tarde, Lula afirmou que não fez nenhum paralelo entre o contexto brasileiro e o venezuelano, mas citou as eleições de 2018, quando foi impedido de disputar o Palácio do Planalto. Lula afirmou que “ao invés de fica chorando”, indicou outro candidato para a disputa.

— Eu não fiz uma ligação entre a situação da Venezuela e do Brasil. Eu só disse a vocês que houve aqui nesse país, eu fui impedido de concorrer às eleições de 2018. Ao invés de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato que disputou as eleições.

A realização de eleições livres, justas e transparentes ainda este ano fazia parte do acordo firmado em Barbados, no fim do ano passado, entre governo e oposição com a presença de observadores internacionais. Ainda há, no entanto, vários poréns sobre a mesa. Uma das cláusulas previstas no documento exigia que os candidatos contrários a Maduro tivessem permissão para recorrer de decisões judiciais que os desqualificassem para o cargo. Apesar disso, María Corina, o principal nome da oposição, que venceu primárias realizadas em 2023 por ampla margem, está inabilitada por 15 anos.

Em janeiro, o tribunal decidiu que a política, de direita, permaneceria desqualificada “por estar envolvida na trama de corrupção orquestrada” pelo ex-líder da oposição Juan Guaidó, alegando que a “conspiração” havia levado a um “bloqueio criminoso da República Bolivariana da Venezuela, bem como à desavergonhada desapropriação de empresas e riquezas do povo venezuelano no exterior, com a cumplicidade de governos corruptos”.

O tribunal também confirmou a inelegibilidade de um possível substituto da oposição, o duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles. Após a decisão, María Corina Machado acusou Maduro e seu “sistema criminoso” de buscar “eleições fraudulentas”.

Lula deu as declarações após encontro com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, no Palácio do Planalto. Na declaração, o presidente brasileiro ainda afirmou que espera que as eleições sejam “as mais democráticas possíveis” e que é preciso esperar o pleito para saber se o processo doi democrático.

— Eu espero que as eleições sejam as mais democráticas possíveis, e segundo o presidente Maduro me disse lá em São Vicente e Granadinas, ele vai concovar todos os olheiros do mundo que quiserem assistir o processo eleitoral na Venezuela. Além disso, eu só posso esperar que haja as eleições para a gente saber se foram democráticas ou não. Vocês sabem que aqui no Brasil, até hoje, um presidente que perdeu as eleições não aceita o resultado das eleições.

Em seguida, Lula afirmou que a comunidade internacional tem interesse em acompanhar as eleições, e que Maduro e a Venezuela precisam de um pleito democrático. O presidente, no entanto, defendeu a presunção da inocência, e afirmou que apontar falhas no processo antes do dia 28 de julho é “começar um discurso que prevê antecipadamente que vai ter problema”.

Acho que a comunidade internacional certamente tem todo interesse em acompanhar para saber se vai será mais democrática eleição da Venezuela, e eu espero que seja porque acho que a Venezuela precisa disso, acho que o Maduro precisa disso e acho que a humanidade precisa disso. Agora, a gente não pode já começar a jogar dúvida antes das eleições acontecerem porque ai começa a ter um discurso que prevê antecipadamente que vai ter problema. Temos que garantir a presunção da inocência até que haja as eleições para que a gente possa julgar se ela foi democrática, se ela foi decente. Obviamente que nem todo candidato que perde eleição aceita o resultado.

O presidente disse ainda que a Venezuela sabe que “precisa de eleição altamente democrática para reconquistar espaço de participação cidadã nos fóruns internacionais” e também para ver o fim do bloqueio americano.

— Quem sabe se estenda até Cuba. Estou feliz que finalmente está marcada a data das eleições na Venezuela e eu espero que as pessoas que estão disputando as eleições não tenha o hábito do ex presidente desse país de negar o processo eleitoral, as urnas, a Suprema Corte.

De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), o período para inscrições de candidato será de 21 a 25 de março, e a campanha eleitoral está marcada para 4 a 25 de julho. A expectativa é de que o atual presidente, Nicolás Maduro, se candidate e que sua principal opositora, María Corina Machado, continue impedida de concorrer.

O acordo de Barbados também fez com que os americanos abrandassem as sanções contra a Venezuela, permitindo que a Chevron, sediada nos EUA, retomasse a extração limitada de petróleo e abrisse caminho para uma troca de prisioneiros. Mas Washington se desencantou com os passos que Caracas deu para trás e anunciou no fim de janeiro que reimporia algumas sanções.

Desde então, o número 2 do governo venezuelano, Diosdado Cabello, disse que as eleições seriam realizadas “sem a presença dos Estados Unidos e da OEA [Organização dos Estados Americanos]”, contrariando o Acordo de Barbados. Maduro, por sua vez, afirmou no mês passado que o “povo no poder” certamente venceria.

Maduro não confirmou que buscará um terceiro mandato de seis anos, mas é amplamente esperado que o faça. Em janeiro, ele disse que o acordo de Barbados estava “mortalmente ferido” depois que as autoridades do governo alegaram ter frustrado vários planos apoiados pelos EUA para assassiná-lo.

Na última sexta-feira, em encontro bilateral realizado paralelamente à 8° Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em São Vicente e Granadinas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu do líder venezuelano, Nicolás Maduro, que haveria eleições em seu país no segundo semestre. O relato foi feito ao GLOBO por um interlocutor que teve acesso à reunião. ( o Globo )

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Da Redação

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