Ao abrir a reunião da Assembleia-Geral das Nações Unidas em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pontuou, como em outras ocasiões, temas prioritários em sua política externa, como o clima, o combate à fome, a reforma da governança global e a paz no mundo. A novidade, porém, é que desta vez Lula subiu o tom ao falar sobre mudanças climáticas e, sem citar nomes, citou o impasse entre o dono da rede X, Elon Musk e o Judiciário brasileiro.
Com a Amazônia, o Pantanal e outras regiões do país em chamas, Lula evitou se defender de possíveis cobranças ao governo brasileiro ao dizer que não se exime de responsabilidade. E deixou claro que não pretende pedir ajuda internacional para acabar com os incêndios, em uma tentativa de mostrar que o Brasil tem soberania na Floresta Amazônica. Em seguida, o brasileiro foi enfático ao cobrar o engajamento de todos, sugerindo que o dinheiro usado em arsenais nucleares deveria ir para ações para mitigar o aquecimento global.
Em outro momento no qual foi menos diplomático do que de costume, Brasil deu uma alfinetada no bilionário Elon Musk, dono da rede social X, ao dizer não se intimidar diante de “indivíduos, corporações e plataformas digitais que se julgam acima da lei”. Disse que a liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras.
O tom do discurso deste ano foi acima do adotado no ano passado, quando o presidente se preocupou em recolocar o país na arena de debates internacionais ao frisar o slogan que permeava sua política externa naquele momento: “o Brasil voltou”. Na ocasião, o presidente também havia feito uma defesa enfática do combate à mudança climática, mas num contexto de enfrentamento à fome e às desigualdades. Outro foco da fala daquela ocasião foi a crítica ao neoliberalismo econômico que estaria abrindo caminho para o crescimento da extrema direita no mundo.
Os temas escolhidos pelo presidente para levar ao discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU neste ano foram semelhantes aos que ele já havia abordado 14 anos atrás. Em 2009, última vez em que participou do encontro no seu segundo mandato — ele não foi na edição de 2010 — o presidente ressaltou críticas ao neoliberalismo, que considerou responsável pela crise econômica global de 2008. Defendeu, ainda, que o combate à desigualdade deveria ser prioridade na Agenda 2030 da ONU e reforçou o compromisso do Brasil com a redução da pobreza, a preservação ambiental e a transição energética sustentável.
No discurso de 2007, o destaque foi o anúncio da intenção do governo brasileiro de lançar um plano para enfrentamento das mudanças climáticas. À frente desse plano, a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deixou o governo poucos meses depois em meio a discordâncias em relação à construção da hidrelétrica de Belo Monte. Passados 14 anos, com Marina de volta ao cargo, o governo tenta levar adiante um plano semelhante.
Parte do que Lula tem falado aos líderes mundiais na ONU é resgatado do seu primeiro mandato, entre 2003 e 2006. Em seu primeiro discurso como presidente do Brasil, Lula reforçou sua proposta para o fim da fome no planeta e a redução das desigualdades. Outro ponto que Lula trouxe de volta entre suas ambições é a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Desde que assumiu, pela primeira vez, ele defende a ampliação do órgão com a incorporação de mais países entre os membros permanentes com direito a veto, que são apenas cinco desde a fundação das Nações Unidas em 1945.
( o Globo )
+ There are no comments
Add yours