O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, defendeu nesta sexta-feira o ataque maciço com mísseis lançado pelo país contra Israel no início da semana e também os atentados de 7 de outubro de 2023, realizados pelo grupo terrorista palestino Hamas em território israelense. Em um raro discurso público, durante uma cerimônia em memória de Hassan Nasrallah, líder do grupo xiita libanês Hezbollah morto em um bombardeio israelense no Líbano, Khamenei prometeu que os aliados de Teerã na região vão continuar lutando contra as forças do Estado judeu e afirmou que “Israel não vai durar”.
A operação das nossas Forças Armadas há poucos dias foi totalmente legal e legítima — disse Khamenei, argumentando que as ações iranianas foram a “punição mínima” contra os “crimes espantosos” de Israel, e acrescentando ao fim do discurso: — Israel não vai durar.
O líder religioso e político iraniano não era visto em público havia dias. Após a ação israelense que matou Nasrallah no Líbano, na sexta-feira passada, o aiatolá foi levado a um abrigo em localização indeterminada, informaram fontes internacionais. A aparição pública para conduzir as orações coletivas de sexta-feira são um raro momento — a última vez que ele havia liderado as preces foi em 2020, após o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani em um bombardeio americano no Iraque.
O discurso de Khamenei acontece em um momento em que Teerã é tomada por expectativa diante da promessa de represália de Israel após o país ser alvo de cerca de 180 mísseis iranianos na terça-feira. O ataque, segundo a Guarda Revolucionária iraniana, foi uma resposta calculada à morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, assassinado na capital do país em uma ação atribuída a Israel, e aos assassinatos de Nasrallah e de um comandante iraniano em Beirute.
Os múltiplos ataques israelenses alimentaram uma disputa interna entre a ala moderada e a ala linha-dura do governo iraniano, que pressionava por uma resposta à altura. Agora, depois que o presidente Joe Biden disse que os EUA estão discutindo com Israel a possibilidade de a retaliação ao Irã incluir o bombardeio das instalações petrolíferas do país, Khamenei afirmou que o revide a agressões será dado no tempo certo.
— Não adiaremos nem apressaremos nossa resposta a Israel — disse o aiatolá, desde 1989 líder supremo do Irã. — Israel afirma ser vitorioso, perpetuando assassinatos e matando civis.
Embora falasse a uma multidão de milhares de iranianos, cuja língua oficial é o farsi, Khamenei enviou mensagens em árabe. Ele convocou os integrantes do “Eixo da Resistência” — grupos e países da região alinhados a Teerã — e nações de maioria muçulmana a não recuarem diante da pressão militar israelense e tentou elevar o moral de seus aliados na linha de frente.
As nações muçulmanas têm um inimigo comum. Elas devem se unir para se defender contra esse inimigo, do Afeganistão ao Iêmen, e do Irã a Gaza e Líbano. Todos os países têm o direito de se defenderem contra agressores — disse o aiatolá no começo do discurso, citando mais tarde que o Hezbollah estaria “prestando um serviço à região”. — Israel nunca vai vencer o Hezbollah e o Hamas. O banho de sangue não vai enfraquecer a sua força (…), a resistência na região não vai recuar.
Contexto perigoso
O discurso de Khamenei conclamando a resistência de seus aliados regionais acontece em um momento em que Israel amplia sua campanha militar terrestre e aérea contra o Hezbollah no Líbano. Enquanto o aiatolá discursava em Teerã nesta sexta, as Forças Armadas israelenses lançavam novos ataques contra o território libanês, enquanto o grupo xiita disparava novos foguetes contra diferentes regiões do Estado judeu.
O governo do Líbano, que não declarou guerra a Israel, disse que um bombardeio destruiu a principal estrada que leva à Síria, usada como rota de fuga da guerra por mais de 150 mil pessoas que decidiram se refugiar no país vizinho ou tomar voos para outros lugares. O Ministério da Saúde libanês informou que 37 pessoas foram mortas e 151 ficaram feridas por ataques israelenses nas últimas 24 horas. O porta-voz de língua árabe do Exército israelense, Avichay Adraee, argumentou que a estrada era usada pelo Hezbollah como rota para transportar armas.
Em meio aos confrontos, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, pousou em Beirute para reuniões com autoridades libanesas. A agenda, que já havia sido confirmada na quinta por autoridades, incluiu uma visita ao primeiro-ministro Najib Mikati.
Israel continua sua campanha também nos territórios palestinos. Na Cisjordânia, autoridades locais afirmaram que um ataque aéreo ao campo de refugiados de Tulkarem nesta quinta-feira matou 18 pessoas, sendo o mais mortal no território desde 2000. O Exército de Israel, por sua vez, disse que seu ataque no norte da Cisjordânia matou o líder do Hamas Zahi Yaser Abd al-Razeq Oufi, que acusou de participar de vários ataques.
Em Gaza, o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas anunciou que o total de mortos no enclave chegou a 41.802, após outras 14 mortes serem registradas nas últimas 24 horas. Autoridades israelenses afirmaram que sirenes no sul do país, perto de Gaza, voltaram a soar pela primeira vez em dois meses.
( o Globo )
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