Inflação desacelera em junho, mas fica acima de 4% em 12 meses

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A inflação desacelerou em junho e subiu 0,21%, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira. Queda no preço das passagens aéreas e de alguns combustíveis puxaram o índice para baixo, mas o grupo de Alimentos e bebidas avançou o dobro do IPCA no mês, evitando um alívio maior no indicador.

Os alimentos, que subiram 0,44% em junho, são o grupo que mais vem pressionando a inflação, já que tem o maior peso no IPCA. A alta de é reflexo do fenômeno climático El Niño, além da tragédia no Rio Grande do Sul e da valorização do dólar, o que já levou analistas a elevarem as expectativas para a inflação de produtos alimentícios neste ano.

Entre as quedas que contribuíram para esse resultado, destacam-se a cenoura e a cebola . Mas itens como batata inglesa e leite continuam pressionando os preços. De acordo com André Almeida, gerente da pesquisa, o leite longa vida teve impacto individual de 0,6 p.p.

— A gente teve uma alta de 7,43% do leite, principalmente relacionada a uma oferta mais limitada devido a uma queda na produção. Então tanto o período de entresafra no sudeste e centroeste, como também o clima adverso na região sul do país, foram fatores que contribuíram para essa alta do leite no mês de junho — explicou Almeida.

Já a batata inglesa teve alta de 14,49% e impacto de 0,05 p.p., também influenciada por uma menor oferta com o período de final da safra das águas e iníco da safra das secas.

— O volume que vem da safra das secas ainda não foi tão expressivo, o que resultou em uma menor oferta desse produto — disse o especialista.

Café sobe 12% no ano

O café moído, com alta de 3,03% no mês, também ajudou a conter a desaceleração. Com redução na oferta mundial do grão, o item tem alta acumulada de 12,15% em 2024, segundo o IBGE.

O grupo transportes registrou queda de 0,19%, após subir 0,44% em maio, contribuindo para que o IPCA não tivesse uma alta maior. Houve queda na passagem aérea (-9,88%) e de alguns combustíveis como óleo diesel (-0,64%) e GNV (-0,61%).

— A gente teve alguns feriados no mês de maio, principalmente Corpus Christi, o que tinha gerado uma alta, fazendo com que a base ficasse mais elevada, e acabamos observando essas quedas nos preços de passagens em junho — disse Almeida.

Gasolina (0,64%) e etanol (0,34%), no entanto, registraram alta. A gasolina subiu mais que no mês anterior e deve subir ainda mais em julho, quando foi anunciado o primeiro aumento de preço do ano do combustível vendido nas refinarias da Petrobras.

Até agora, a gasolina vinha subindo por conta da alta do etanol, que é misturado ao combustível e acaba influenciando o valor final do produto na bomba.

— A gente não teve nenhum reajuste concedido nas refinarias nesse período, são reflexos de dinâmicas de mercado. Já a taxa de água e esgoto subiu 1,13% por conta de reajustes tarifários aplicados em Brasília, São Paulo e Curitiba — explicou Almeida.

Apesar da desaceleração do IPCA em junho, a alta acumulada em 12 meses indica que os preços continuarão a pressionar o Banco Central, que interrompeu o ciclo de cortes de juros. A Selic está em 10,5% hoje e não deve ceder até o fim de 2024, na visão de analistas.

Há preocupações com o mercado de trabalho aquecido, que impulsiona o consumo, e com a inflação em trajetória de alta.

O que dizem os analistas?

Em nota, o Itaú considerou que o IPCA de junho veio abaixo da expectativa e com abertura benigna, especialmente em função dos serviços subjacentes, que desaceleraram para o menor patamar registrado esse ano, além dos serviços ligados à mão e obra.

“Para frente, esperamos alguma reaceleração dos serviços refletindo a conjuntura de mercado de trabalho apertado, bem como aceleração de industriais em meio ao câmbio mais depreciado” publicaram em nota.

Para Alexandre Maluf, economista de inflação da XP, o IPCA veio bem abaixo do esperado, e a grande surpresa em relação às projeções foi com relação à alimentação em domicílio, que tiveram impacto das chuvas no Rio Grande do Sul.

— Os alimentos demostraram a devolução de uma forte alta que havia sido registrada no IPCA de maio, que foi de 0,66% e desacelerou para 0,47% em junho. A alimentação em domicílio no Rio Grande do Sul subiu 3,8% em maio e devolveu para 0,88% de queda este mês. Isso indica que em julho a gente deve ter uma deflação em alimentação no Brasil, muito por conta dos efeitos das enchentes — disse ele.

Com relação à alta em 12 meses, Maluf considera que já era esperado que ultrapassasse os 4% e que nogeral, o IPCA abaixo das expectativas significou uma leitura positiva no mês de junho, mas que isso não deve ter grandes influencias em decisões de política monetária. Já com relação às altas, ele acredita que julho terá números expressivos em gasolina como energia elétrica.

— Gasolina irá refletir esse reajuste da Petrobras anunciado na segunda-feira. E energia elétrica terá alta por conta do posicionamento da bandeira amarela, bandeira tarifária amarela neste mês de julho. Então, os dois sub-itens com variações expressivas neste mês devem carregar o índice para cima. E, adicionalmente, claro, não posso deixar de lado o gás de cozinha, o gás de botijão que também teve reajuste na segunda-feira. Então, os bens monitorados devem ter uma aceleração, diferente da que a gente viu em junho, puxando o índice para cima — explicou.

Já para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, os dados de inflação foram benignos e com a recente valorização da taxa de câmbio, as expectativas de inflação podem se estabilizar nas próximas semanas.

“Isso irá contribuir para reduzir a probabilidade de novas altas na taxa de juros no futuro. Porém, elas ainda seguem acima da meta e são de grande preocupação para o BC. Esse cenário se soma as dúvidas em relação à política fiscal brasileira e as incertezas no cenário externo. Em relação à taxa Selic, estimamos manutenção em 10,50% a.a. até o final de 2025”, explicou Sung. ( o Globo )

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Da Redação

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