O hacker Walter Delgatti Neto omitiu em depoimento à Polícia Federal (PF) na quarta-feira (16) informações que revelou nesta quinta (17) na CPMI do 8 de Janeiro.
Segundo investigadores ouvidos pela reportagem, além dos R$ 40 mil que disse ter recebido de Carla Zambelli (PL-SP) para invadir sistemas do Judiciário, ele mencionou no depoimento à PF que recebeu da deputada o texto de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
Não constam do depoimento de Delgatti à PF, segundo fontes, os pontos que ele falou à CPMI:
- Menção sobre Bolsonaro ter prometido a ele um indulto caso fosse preso por ação contra urnas eletrônicas;
- Menção sobre promessa de emprego feita por parte da Zambelli na campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro;
- Menção sobre grampo no ministro Alexandre de Moraes, do STF;
- Menção sobre o marqueteiro de Bolsonaro, Duda Lima, na campanha ter pedido um “código-fonte” fake para apontar fragilidade nas urnas. Ele nega;
- Menção sobre ter orientado servidores do Ministério da Defesa na elaboração de relatório sobre urnas.
Sobre tudo isso, e outros detalhes dados a CPMI, Delgatti será inquerido no novo depoimento marcado para amanhã na PF de Brasília.
Fontes do STF e da PF afirmaram à reportagem que não há nenhum indício de que o ministro Alexandre d Moraes tenha sido grampeado ilegalmente, como mencionou Delgatti à CPMI.
Depoimento à CPMI
Nesta quinta-feira, Delgatti prestou depoimento na CPMI dos atos de 8 Janeiro no Congresso Nacional. Ele afirmou aos integrantes que, durante uma reunião no Palácio da Alvorada com Jair Bolsonaro (PL) antes das eleições de 2022, o então presidente assegurou que concederia um indulto (perdão presidencial) a ele, caso fosse preso ou condenado por ações sobre urnas eletrônicas.
“A ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia”, declarou.
Ainda neste encontro, disse que, em conversa com Bolsonaro, ouviu que o entorno do então presidente já havia conseguido grampear o ministro Alexandre de Moraes, integrante do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo Delgatti, na ligação, Bolsonaro teria sugerido que Delgatti Neto “assumisse a autoria” do grampo.
“Segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”, disse.
No seu depoimento, Delgatti também comentou que assessores de Bolsonaro aconselharam a criação de um “código-fonte” falso para sugerir que a urna eletrônica era vulnerável e passível de fraude.
A proposta teria partido do marqueteiro Duda Lima em uma reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e outras pessoas ligadas à parlamentar. Lima nega participação na reunião.
Nota da defesa de Jair Bolsonaro
“Considerando as informações prestadas publicamente pelo depoente Sr. Walter Delgatti Neto perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito na presente data, a defesa do ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro, informa que adotará as medidas judiciais cabíveis em face do depoente, que apresentou informações e alegações falsas, totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova, inclusive cometendo, em tese, o crime de calúnia.
A defesa esclarece ainda que, diante de informações prestadas pelo Sr. Walter Delgatti Neto, quando de sua passagem pelo Palácio da Alvorada, acerca de suposta vulnerabilidade no sistema eleitoral, o então Presidente da República, na presença de testemunhas, determinou ao Ministério da Defesa a apuração das alegações, de acordo com os procedimentos legais e em conformidade com os princípios republicanos, seguindo o mesmo padrão de conduta observado em todas as suas ações enquanto chefe de Estado.
Após tal evento, o ex-Presidente nunca mais esteve na presença de tal depoente ou com ele manteve qualquer tipo de contato direto ou indireto.”
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