O chefe do Exército de Israel disse às tropas nesta quarta-feira para estarem preparadas para uma possível entrada no Líbano, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, alertou que o Estado judeu continuará operando no território libanês contra o grupo xiita Hezbollah até que os moradores do norte de Israel possam voltar com segurança às suas casas. As Forças Armadas do país também anunciaram a mobilização de duas brigadas da reserva para serem destacadas no norte, onde suas forças estão envolvidas em confrontos transfronteiriços com a organização político-militar libanesa.
“Estamos desferindo golpes no Hezbollah que ele nunca imaginou. Estamos fazendo isso com força e astúcia. Posso prometer uma coisa: não descansaremos até que [as pessoas deslocadas no norte] retornem para suas casas”, disse o premier em comunicado. Em uma nota do Exército, o tenente-general Herzi Halevi afirmou que a entrada “com força” no Líbano mostrará ao grupo xiita “como é enfrentar uma força de combate profissional”. Em discurso aos soldados, ele afirmou que as forças israelenses são “muito mais fortes” e devem “destruir o inimigo”.
— Vocês podem ouvir os aviões aqui; estamos atacando o dia todo, tanto para preparar o terreno para a possibilidade de sua entrada, quanto para continuar atingindo o Hezbollah — disse. — Não estamos parando. Continuaremos atacando e prejudicando-os em todos os lugares. Para fazer isso, estamos nos preparando para o curso da manobra, e a sensação é que suas botas militares entrarão em território inimigo.
Na segunda-feira, um alto oficial militar israelense disse que as Forças Armadas de Israel estão “atualmente centradas apenas na campanha aérea”. Ele delineou três objetivos militares da ofensiva atual: o primeiro seria reduzir a capacidade do Hezbollah de disparar foguetes contra as áreas de fronteira, como tem feito desde 8 de outubro (um dia após o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel), e, em segundo, afastar seus combatentes da fronteira entre Líbano e Israel.
O terceiro objetivo, continuou, é destruir a infraestrutura que foi construída pela força de elite do grupo xiita — as forças Radwan — que, de acordo com o oficial, seria usada para atacar “comunidades israelenses no norte, massacrar, assassinar e sequestrar civis”. O principal porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, reiterou os objetivos da guerra em Gaza declarados por Netanyahu, incluindo o de trazer de volta às suas casas os mais de 60 mil israelenses que tiveram que sair da área da fronteira norte.

A tensão disparou entre os dois países após uma semana de ataques no Líbano que causaram dezenas de mortos e milhares de feridos. Entre terça e quarta da última semana, centenas de aparelhos pager e walkie-talkies que os membros do Hezbollah usavam para se comunicar foram detonados. E na sexta-feira, um bombardeio israelense matou em Beirute Ibrahim Aqil, um alto comandante do grupo xiita, e cerca de 50 pessoas, entre elas outros membros do grupo. O Hezbollah, por meio de seu líder máximo, Hasan Nasrallah, prometeu uma “punição justa” e desafiou Israel a invadir o Líbano, embora também tenha admitido a gravidade do golpe para a organização.
Ataques continuam
Os ataques de Israel contra o Líbano continuaram, com o Ministério da Saúde libanês afirmando que, apenas nesta quarta-feira, 51 pessoas morreram e 223 ficaram feridas em bombardeios contra 100 posições do grupo xiita no sul e na região do Vale do Bekaa, ao leste. A ofensiva do Estado judeu ocorreu pouco depois de a organização político-militar do Líbano enviar pela primeira vez um míssil contra a cidade de Tel Aviv — o ataque mais profundo contra o território israelense desde a intensificação do conflito, na semana passada.
Vídeos gravados em solo israelense mostram diversos projéteis sendo interceptados durante o voo e sirenes de alerta ecoando pela região. Segundo o Hezbollah, o principal projétil disparado contra o Estado judeu era um míssil Qader 1, de fabricação iraniana, com alcance operacional estimado em 300 km (Tel Aviv está a cerca de 100 km da fronteira com o Líbano). O alvo, disseram fontes libanesas, seria a sede do Mossad, o serviço secreto israelense, apontado como o responsável pela detonação dos pagers e walkie-talkies.
À rede americana CNN, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse que a Casa Branca considerou o ataque do Hezbollah em Tel Aviv “muito preocupante”, embora ainda pense que uma solução diplomática seja possível. Em declarações separadas ao “Today Show”, da NBC, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, também apelou a uma solução diplomática para o conflito, afirmando que “o que todos querem é ter um ambiente seguro onde as pessoas possam ir para casa”.
— A melhor maneira de conseguir isso não é por meio da guerra, não é por meio de uma escalada, seria por meio de um acordo diplomático — disse Blinken, também citando as negociações de cessar-fogo entre o grupo terrorista Hamas e Israel. — Temos um pedaço de papel, um acordo; tem 18 parágrafos, 15 desses parágrafos foram acordados entre Hamas e Israel. Mas o que aconteceu nas últimas semanas é que o Hamas simplesmente não esteve à mesa, não esteve disposto a se comprometer nas questões pendentes.
A pedido da França, o Conselho de Segurança da ONU terá uma reunião de emergência nesta quarta-feira, em Nova York, onde a preocupação com a escalada entre o Exército israelense e o Hezbollah dominou a abertura da Assembleia Geral. O diretor da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, temer “uma guerra total” que faça o Líbano virar uma nova Faixa de Gaza, e o papa Francisco denunciou a “terrível escalada” no Líbano, que chamou de “inaceitável”. O pontífice ainda pediu à comunidade internacional que faça todo o possível para acabar com a crise.
( o Globo )
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