EDITORIAL IMARANHÃO: As Big Techs: A fornalha já foi acesa

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Em um cenário já coalhado por confrontos ideológicos desenfreados e uma chuva incessante de desinformação nas redes sociais, as coisas ganharam um novo nível de intensidade com a recente declaração de Mark Zuckerberg.

O CEO da Meta, agora em total sintonia com o bolsonarismo, Trump, Musk (e a própria direita mundial), anunciou que sua plataforma, nos Estados Unidos, e futuramente em outras partes do mundo, deixará de checar fatos e permitirá a propagação irrestrita de notícias falsas e discursos de ódio. O que já era um campo minado de fake news e de polarização política, agora se tornou uma verdadeira fornalha. E, quem diria, a direita global parece ter encontrado o aliado ideal para alimentar o caos.

É necessário, porém, colocar as coisas em seu devido contexto: As plataformas das big techs nunca foram, de fato, bastiões do debate político saudável ou do compromisso com a inclusão digital. O que elas sempre buscaram – antes de qualquer coisa – foi poder financeiro e influência política. Dizer que as redes sociais são locais de construção de conhecimento ou de democracia digital é, no mínimo, uma piada de mau gosto.

As declarações de Zuckerberg, portanto, não são uma surpresa, mas sim uma revelação brutal de que o jogo sempre foi sobre controle e lucro – qualquer ilusão de bem-estar social nas plataformas é, no melhor dos casos, um bônus de marketing.

A fala de Zuckerberg – proferida no dia 8 de janeiro – não só ratifica seu alinhamento com a vertente mais rústica e polarizadora da política americana, como também lança uma sombra sobre a própria Meta. A empresa, que controla Facebook, WhatsApp, Instagram e Threads, está enfrentando um processo antitruste movido pela Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC).

O risco de um desmembramento é real, e a acusação de prática monopolista está na raiz da ação. Fica claro que, enquanto o debate sobre a regulamentação da internet avança, as big techs seguem suas estratégias de controle de mercado e favorecimento de narrativas que garantem seu domínio econômico.

O Google, não menos enredado, também se vê sob o risco de um processo antitruste que pode forçá-lo a vender o Chrome, seu navegador de internet. A situação é uma verdadeira cereja no bolo para aqueles que acreditam que o poder das big techs precisa ser limitado.

O mais irônico de tudo é que Donald Trump, durante sua campanha, já se dizia a favor da não divisão do Google nos Estados Unidos. Bem, parece que sua retórica já encontrou eco em grandes players da tecnologia, com Zuckerberg à frente dessa aliança incômoda entre política e negócios.

No Brasil, a situação não é menos reveladora. O filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, se apressou em celebrar a decisão de Zuckerberg. Em um post inflamado no Instagram, ele afirmou que a Meta estava “detonando” o ministro Alexandre de Moraes, sem sequer citá-lo, ao criticar a censura silenciosa dos tribunais.

O entusiasmo de bolsonaristas, alguns com aspirações de lutadores de MMA, em se aproximar de Zuckerberg, e a promessa de encontros entre parlamentares brasileiros e o dono da Meta, soa como um espetáculo político que coloca os interesses empresariais acima de qualquer consideração democrática.

Este é, sem dúvida, um ano que promete intensificar ainda mais as disputas nas redes sociais. As tentativas de controlar narrativas – sejam políticas, ideológicas, religiosas ou de gênero – devem alcançar novos picos de efervescência. E, claro, em meio a tudo isso, as big techs continuam a acender a fornalha, cada vez mais dispostas a garantir que a política digital seja um campo de batalha lucrativo, sem compromisso com a verdade ou com o bem-estar social. Afinal, em tempos de caos, quem lucra com a guerra sempre sai vencedor.

 

Editorial Imaranhão

 

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