Os Correios anunciaram nesta quarta-feira (15) um plano para cobrir um rombo bilionário nas contas da empresa.
O anúncio foi feito pelo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, no cargo há menos de um mês. Ele começou falando sobre os prejuízos acumulados nos últimos anos. Disse que a empresa não se adaptou ao aumento da concorrência no setor de encomendas.
“Nos últimos anos, o que vem acontecendo com a empresa – e isso vem de forma crescente – é a perda de market share, a perda de competitividade vem fazendo com que a gente tenha perda de receita. Essa perda de receita impacta o caixa, e ao impactar o caixa – aí eu falo principalmente nos últimos meses -, a gente vem afetando a operação, o que potencializa esse ciclo negativo”, diz Emmanoel Rondon, presidente dos Correios.
Os Correios registram resultados negativos seguidos desde 2022. No acumulado do primeiro semestre de 2025, o prejuízo passou de R$ 4 bilhões. A receita obtida pela prestação de serviços encolheu R$ 1 bilhão na comparação com 2024. No segmento de encomendas internacionais, por exemplo, a arrecadação caiu mais de 60%. Já as despesas administrativas, que incluem salários e precatórios, cresceram quase R$ 1,5 bilhão.
Diante da crise, a estatal negocia um empréstimo de R$ 20 bilhões com um consórcio de bancos. A operação deve contar com garantias do Tesouro Nacional e com medidas de reestruturação da empresa. Entre elas, um novo plano de demissão voluntária – o presidente dos Correios disse que ainda estão mapeando quais unidades serão enxugadas; venda de imóveis ociosos – mas os Correios não informaram quais podem ser vendidos; e renegociação de contratos com fornecedores.

Correios anunciam plano bilionário para cobrir rombo nas contas da empresa — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Os Correios não divulgaram as estimativas de economia e de aumento da receita com essas medidas. Segundo o presidente Emmanoel Rondon, a estatal deve equilibrar as contas em 2026 e, se tudo der certo, voltar a ter lucro em 2027. Mas economistas avaliam que o pacote não é suficiente para reverter a situação dos Correios.
“É possível, sim, ter uma empresa de correios extremamente rentável e importante para o país. Agora, muita coisa tem que ser feita na atual empresa para que isso vingue. Estamos com problema de gestão, na minha opinião. É insuficiente porque o governo, o setor público, tradicionalmente é um mau gestor. Então, as medidas são muito difíceis de serem tomadas e o gestor não terá a força política para implementá-las”, diz Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP.
No primeiro ano de governo, o presidente Lula retirou os Correios do programa de privatizações do governo passado, de Jair Bolsonaro. O pesquisador associado do FGV IBRE, Armando Castelar, afirma que os Correios não conseguem concorrer, mesmo tendo vantagens:
“Só vale lembrar que a empresa tem uma série de isenções tributárias. Quer dizer, ela conseguiu prejuízo mesmo sem pagar um monte de imposto que empresas privadas pagam. Mostra como o prejuízo é ainda maior quando a gente considera esses fatores que beneficiam a empresa de uma maneira muito única. O fato de ser uma empresa privada não impede de forma nenhuma que você siga políticas sociais, por exemplo, de garantir que vai haver atendimento em localidades pequenas ou questões assim”.
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