Aviões militares dos EUA iniciam envio de ajuda aérea para Gaza, mas eficácia da ação é questionada por ONGs

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Três aviões militares de carga dos Estados Unidos lançaram alimentos na Faixa de Gaza neste sábado, confirmaram dois alto funcionários americanos, enquanto o território palestino enfrenta uma crise humanitária crescente após meses de conflito. A entrega ocorre um dia após o presidente Joe Biden anunciar o plano de ajuda humanitária ao enclave — que enfrenta uma crise humanitária crescente após quase cinco meses de conflito —, mas tem sido criticada por algumas organizações de ajuda internacional por não ser eficaz e possivelmente desviar o foco de medidas mais significativas.

O Comando Central dos EUA (CentCom) na região informou que três aviões militares de carga C-130 “lançaram mais de 38 mil rações ao longo da costa de Gaza”. Os pacotes não contêm água ou medicamentos.

Três C-130 da Força Aérea dos EUA conduziram operações para fornecer “ajuda aos civis afetados pelo conflito em curso”, completou.

O presidente Joe Biden anunciou na véspera que os Estados Unidos começariam a transportar suprimentos aéreos para Gaza, após a morte de 112 palestinos durante a entrega caótica de um comboio de ajuda no norte do enclave na quinta-feira. Autoridades palestinas acusam Israel de disparar contra a multidão; o Exército israelense, por sua vez, nega a acusação, afirmando que as mortes decorreram de uma debandada durante a entrega de alimentos, admitindo apenas disparos pontuais em direção a um grupo de palestinos que os soldados avaliaram como sendo uma ameaça.

O presidente americano pressiona Israel para reduzir as baixas civis e permitir a entrada de ajuda na Faixa de Gaza, mas ao mesmo tempo mantém a assistência militar a esse tradicional aliado dos EUA.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse na sexta-feira que os EUA planejam realizar vários lançamentos aéreos que durariam semanas, descrevendo ser uma “operação militar difícil” que exige um planejamento cuidadoso por parte do Pentágono para a segurança tanto dos civis de Gaza quanto do pessoal militar dos EUA.

Nos últimos dias, vários países lançaram pacotes com ajuda humanitária aérea devido às dificuldades de acesso ao território palestino, sitiado por Israel desde 9 de outubro, dois dias após o início do conflito. Entre os países que lançaram os embarques está a Jordânia, com apoio da França, Holanda, Reino Unido e Egito, que contou com a cooperação dos Emirados Árabes Unidos.

Hisham Abu Eid, um morador de 28 anos do bairro de Zeitun, na cidade de Gaza, disse que recebeu sacos de farinha na quinta-feira.

— Mas isto não é suficiente. Todos estão com fome. A ajuda é escassa e insuficiente — disse ele.

Desde o começo do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, a ajuda humanitária chega por via terrestre de forma limitada ao enclave, através de Rafah, pois está sujeita a autorizações de Israel, que impõe um bloqueio a Gaza desde 2007.

De acordo com a ONU, 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes do território estão ameaçados pela fome, após quase cinco meses de conflito. Nos últimos dias, 13 crianças morreram de “desnutrição e desidratação”, segundo autoridades de saúde do Hamas.

Plano sob críticas

 

O plano da administração Biden, entretanto, tem sido criticado por grupos de ajuda internacional, que dizem que tal medida é ineficaz e desvia a atenção de medidas mais significativas, como pressionar Israel a levantar o cerco a Gaza.

“Os lançamentos aéreos não substituem e não podem substituir o acesso humanitário”, afirmou o Comitê Internacional de Resgate, uma organização humanitária com sede em Nova York, num comunicado no sábado. “Os lançamentos não são a solução para aliviar esse sofrimento e desviam o tempo e o esforço de soluções comprovadas para ajudar em grande escala.”

Os EUA e outros países deveriam, em vez disso, concentrar os seus esforços em “garantir que Israel suspenda o cerco a Gaza” e fazer com que Israel reabra as passagens fronteiriças para permitir a circulação desimpedida de combustível, alimentos e suprimentos médicos, disse a organização.

Na véspera dos lançamentos, logo após o anúncio de Biden, Richard Gowan, diretor das Nações Unidas do International Crisis Group, disse no X (antigo Twitter): “Os trabalhadores humanitários se queixam sempre de que os lançamentos aéreos são boas oportunidades fotográficas, mas uma péssima forma de entregar ajuda”.

Por sua vez, Scott Paul, da Oxfam, ONG internacional de combate à pobreza, escreveu que as entregas “servem principalmente para aliviar as consciências culpadas de altos funcionários dos EUA, cujas políticas estão contribuindo para as atrocidades em curso e o risco de fome em Gaza”.

Os grupos de ajuda normalmente realizam lançamentos aéreos como último recurso, dadas essas desvantagens, bem como os perigos de navegar no espaço aéreo sobre uma zona de conflito e para as pessoas no terreno.

Novos ataques

 

Os ataques continuaram neste sábado, com o Exército israelense bombardeando a Faixa de Gaza e causando pelo menos 92 mortes nas últimas 24 horas, segundo o Ministério da Saúde do enclave. Onze pessoas foram mortas e outras 50 ficaram feridas num ataque contra um campo de deslocados perto de um hospital em Rafah, no sul de Gaza.

O conflito entre Israel e o Hamas eclodiu em 7 de outubro, quando comandos islâmicos mataram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 240 no sul de Israel. Uma trégua de uma semana em novembro permitiu que cerca de 100 reféns fossem trocados por 240 prisioneiros palestinos, e Israel estima que cerca de 130 pessoas permanecem em cativeiro, 30 das quais já morreram.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva para “aniquilar” o Hamas, numa ação que já deixou mais de 30 mil mortos no enclave, em sua maioria civis. (Com NYT e AFP.) ( o Globo )

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Da Redação

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