Autoridades estimam ‘várias centenas’ de mortos após passagem de ciclone em território ultramarino da França

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Equipes de resgate correm contra o tempo nesta segunda-feira no território francês de Mayotte, no Oceano Índico, que foi atingido no fim de semana pelo ciclone Chido, considerado o mais forte em quase um século a passar pelo arquipélago. Trabalhos de busca estão sendo realizados para localizar e resgatar sobreviventes, fornecer ajuda urgente em meio aos cortes de água e energia, enquanto autoridades e populares descrevem um cenário de destruição completa, calculando que o saldo total de mortos pode chegar a centenas.

Imagens de Mayotte, que, como outros territórios ultramarinos franceses, é parte integrante da França e governada por Paris, mostram cenas de devastação, com casas reduzidas a pilhas de escombros. O aeroporto da ilha foi fortemente atingido, e houve corte de eletricidade, água e comunicações no sábado. Árvores foram arrancadas e linhas de energia derrubadas, enquanto o Ministério da Saúde da França disse que o principal hospital sofreu “grandes danos”, principalmente nas unidades cirúrgicas, de terapia intensiva, maternidade e emergência

A situação é catastrófica, apocalíptica. — disse Bruno Garcia, dono de um hotel na capital de Mayotte, em entrevista à BFMTV, afiliada da CNN. — Não sobrou nada. É como se uma bomba atômica tivesse caído em Mayotte.

Mayotte é a região mais pobre da França, com um terço estimado da população vivendo em favelas cujas casas frágeis com telhados de chapa metálica ofereceram pouca proteção contra a tempestade. Com as estradas fechadas, as autoridades temem que muitos ainda possam estar presos sob escombros em áreas inacessíveis.

Questionado sobre o eventual número de mortos, o prefeito Francois-Xavier Bieuville, a principal autoridade nomeada por Paris no território, disse à emissora Mayotte la Premiere:

— Acho que definitivamente serão várias centenas, talvez cheguemos perto de mil ou mesmo vários milhares — afirmou.

Avaliar o número de mortos quase certamente será uma tarefa difícil. A maioria da população de Mayotte é muçulmana, em que a tradição religiosa determina que os corpos devem ser enterrados rapidamente, o que significa que alguns podem nunca ser contados. Além disso, a ilha recebe milhares de imigrantes ilegais — que vivem em condições precárias e não estão à vista das autoridades.

Menino anda por entre destruição após passagem do ciclone Chido — Foto: GENDARMERIE NATIONALE / AFP
Menino anda por entre destruição após passagem do ciclone Chido — Foto: GENDARMERIE NATIONALE / AFP

O ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, cujo superministério é responsável por Mayotte, chegou à ilha para supervisionar os esforços de resgate. Ele previu que o trabalho de identificação seria difícil.

— Na realidade, para o número de vítimas, vamos precisar de dias — disse Retailleau às autoridades após chegar, alertando contra dar quaisquer números neste momento.

O ciclone Chido estava com ventos de pelo menos 226 km/h quando atingiu Mayotte, que fica a leste de Moçambique — para onde seguiu e matou ao menos 3 pessoas. Especialistas apontaram que a intensidade do fenômeno seria resultado das mudanças climáticas. O meteorologista Francois Gourand, do serviço meteorológico Meteo France, afirmou que ele foi supercarregado pelas águas particularmente quentes do Oceano Índico.

Crise política

A destruição provocada pelo Chido eclodiu um dia após o presidente francês, Emmanuel Macron, nomear François Bayrou como primeiro-ministro, representa um grande desafio para um governo que ainda opera apenas como interino. Macron deve presidir uma reunião de crise em Paris, segundo o Palácio do Eliseu.

A ilha francesa de Reunião, mais próxima do arquipélago, estava servindo como um centro para as operações de resgate. Centenas de agentes de segurança franceses estão sendo mobilizados para participar do esforço.

Enquanto as autoridades avaliavam a escala do desastre, um avião de primeiros socorros chegou a Mayotte no domingo. Ele carregava três toneladas de suprimentos médicos, sangue para transfusões e 17 equipes médicas, de acordo com autoridades.

( o Globo )

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Da Redação

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