ATACMS: Ucrânia começa a usar contra a Rússia mísseis de longo alcance enviados ‘secretamente’ pelos EUA; conheça

Estimated read time 6 min read

Os Estados Unidos confirmaram ter entregue mísseis táticos de longo alcance às forças ucranianas — equipamento que, até então, o governo do presidente americano, Joe Biden, se recusava a fornecer para a Ucrânia no combate contra a Rússia. Chamados ATACMS (Sistemas de Mísseis Táticos do Exército), eles foram “discretamente” incluídos no pacote de ajuda de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão, na cotação atual) anunciado em 12 de março e repassado a Kiev no início deste mês, afirmou nesta quarta-feira Garron Garn, porta-voz do Pentágono.

Os armamentos chegam para as forças ucranianas num momento delicado e de escassez de pessoal e recursos no campo de batalha. No entanto, Moscou anunciou, nesta quinta-feira, que o acesso dos ucranianos às armas de longo alcance, incluindo os mísseis fornecidos pelos americanos, não mudará o resultado da guerra. Porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov declarou que os EUA estão “diretamente envolvidos” no conflito, mas que a Rússia alcançará seus objetivos — e que a ajuda fornecida “causará mais problemas” para a Ucrânia.

Segundo a CNN, Biden resistiu ao envio de mísseis de longo alcance por preocupação com a agilidade da produção do armamento, que precisa de “componentes complexos” para ser feito. A empresa que o fabrica faz cerca de 500 unidades por ano. A reavaliação da decisão ocorreu, porém, após a aquisição e uso de mísseis balísticos norte-coreanos pela Rússia contra a Ucrânia, além dos ataques à infraestrutura civil ucraniana. Diante disso, os EUA passaram a trabalhar nos bastidores para comprar mais mísseis e preencher os estoques dos militares americanos.

 Fomos capazes de avançar com a disposição do ATACMS ao mesmo tempo em que mantivemos a atual prontidão das nossas forças armadas — afirmou o major Charlie Dietz, também porta-voz do Pentágono. — Nós tínhamos alertado a Rússia contra a aquisição de mísseis balísticos norte-coreanos e contra ataques à infraestrutura civil na Ucrânia. Com as nossas preocupações de prontidão resolvidas, conseguimos cumprir o nosso alerta e fornecer esta capacidade de longo alcance à Ucrânia.

Bombas de fragmentação

Autoridades americanas pontuaram que a entrega dos novos mísseis não tinha sido anunciada publicamente antes para manter a “segurança operacional” de Kiev. No ano passado, os Estados Unidos chegaram a enviar um pequeno número de ATACMS para o país, embora naquela ocasião o alcance do armamento tenha sido menor: cerca de 160 km. Na época, Biden superou a relutância em fornecer as armas num momento em que os ucranianos lutavam em uma contraofensiva, e os mísseis foram usados para atacar duas bases aéreas russas na Crimeia. Agora, os ATACMS integrados às forças da Ucrânia podem atingir alvos a 300 km.

Por mais de um ano após o início da guerra, em fevereiro de 2022, a Casa Branca rejeitou as exigências do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, relativas às armas. Parte da preocupação era que Kiev pudesse usar a versão de mísseis de maior alcance para atingir alvos no interior de Moscou — algo que poderia cruzar uma “linha vermelha” que levaria a Rússia a elevar sua escalada contra o país vizinho. Quando os primeiros ATACMS foram enfim enviados à Ucrânia, no último ano, uma condição era a de que eles não fossem usados para ataque no território russo.

Esse pensamento mudou, porém, depois que mísseis semelhantes foram fornecidos pelo Reino Unido e pela França aos ucranianos no ano passado, e sua utilização em batalhas não provocou uma grande reação russa. Os mísseis Storm Shadows britânicos e os SCALP franceses tinham, inclusive, um alcance maior do que os ATACMS enviados pelos Estados Unidos à Ucrânia no ano passado. A versão enviada era uma munição cluster que disparava 950 pequenas bombas. Armas do tipo são proibidas por um acordo internacional que os EUA não assinaram.

Os mísseis ATACMS são o segundo tipo de arma de fragmentação que os americanos forneceram à Ucrânia. Em julho, a administração Biden enviou projéteis de artilharia de 155 milímetros, cada um contendo 72 submunições menores projetadas para destruir veículos blindados e soldados inimigos. Os mísseis eram armas mais antigas que, devido à proibição internacional, o Pentágono disse que não sabia como utilizar em um conflito envolvendo forças americanas e por isso concordou em fornecê-las à Ucrânia. As versões mais recentes do ATCMS têm uma única carga explosiva, e os americanos concluíram que seu próprio arsenal era tão pequeno que não poderiam abandoná-lo.

O ATACMS americano foi concebido no final da Guerra Fria para o que os militares chamam de missões de ataque profundo em alvos inimigos prioritários. Na era pré-GPS, o míssil era uma rara arma guiada lançada no solo no campo de batalha das décadas de 1980 e 1990. Ele foi construído para ser disparado do veículo de lançamento M270 do Exército, que podia transportar duas unidades de cada vez. Em comparação, o veículo HIMARS menor, que o Pentágono forneceu a Kiev em 2022, só pode transportar um único ATACMS por vez.

Pacote de ajuda dos EUA

Nesta quarta-feira, Biden anunciou que sancionou um projeto aprovado no Senado que inclui um pacote de auxílio militar de cerca de US$ 61 bilhões (R$ 313 bilhões) para a Ucrânia. Em publicações nas redes sociais, Zelensky agradeceu aos líderes democrata e republicano no Senado — Chuck Schumer e Mitch McConnell, respectivamente — pela aprovação do pacote, e aos americanos pelo apoio contínuo. Ele, no entanto, cobrou a rapidez na entrega dos equipamentos e disse que o acesso a armas de longo alcance, sistemas de defesa antiaéreo e artilharia são “ferramentas essenciais para restaurar mais rapidamente a paz”.

“A chave agora é a velocidade. A rapidez na implementação de acordos com parceiros sobre o fornecimento de armas aos nossos guerreiros. A rapidez na eliminação de todos os esquemas russos para contornar as sanções. A rapidez na procura de soluções políticas para proteger vidas do terror russo. Todo líder que não perde tempo salva vidas”, escreveu.

Na terça-feira, um funcionário americano afirmou que o Pentágono preparou um pacote de ajuda militar de US$ 1 bilhão (R$ 5,1 bilhões) para ser enviado rapidamente para a Ucrânia assim que Biden assinasse o projeto de financiamento. Nele estão inclusos mísseis antiaéreos Stinger portáteis, projéteis de 155 milímetros, mísseis guiados antitanque e veículos de combate. A mesma fonte ressaltou que o pacote também incluiria munições para os chamados sistemas de foguetes de artilharia de alta mobilidade, ou HIMARS, que podem lançar os mísseis ATACMS. ( o Globo )

Relacionadas

Da Redação

+ There are no comments

Add yours

Deixe uma resposta