Com atraso de duas horas e clima de já ganhou, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e sua vice, Marta Suplicy (PT), lançaram na tarde deste sábado (20) sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Marcaram presença o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros e outros caciques da esquerda. A convenção do PSOL acontece no Expo Center Norte, na Zona Norte da capital paulista.
Lula começou sua fala pedindo que a imprensa tirasse uma foto conjunta do ministro da Fazenda e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad; da ex-prefeita petista Luiza Erundina; do candidato Boulos e sua vice, Marta, também ex-chefe do executivo; e do deputado federal Rui Falcão, afastado para trabalhar na campanha. O presidente afirmou que a foto vale mais do que qualquer discurso.
— Essa foto é muito importante. É a foto da comparação. Se vocês puderem, durante a campanha, andem com essa foto. Para que possam fazer a comparação de quem está disputando conosco. Quem está com nosso adversário e quem está conosco? — disse ele, em referência ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O presidente ressaltou que Boulos não é o candidato do PSOL, mas de todos os partidos que compõem a coligação batizada como “Amor por São Paulo”, que reúne o total de oito partidos: PSOL, PT, PDT, Rede, PCdoB, PV, PMB e PCB. Quase todos do campo progressista, com exceção do PMB (Partido da Mulher Brasileira), que nega rótulos à esquerda ou à direita.
— Estou convencido de que quando decidi assumir o compromisso de dizer “o Boulos é meu candidato…” Quero dizer que me sinto tão candidato quanto ele. Quero ser responsável pela vitória dele — ressaltou.
— Conheci este jovem protestando na frente do meu apartamento em São Bernardo, defendendo moradia. Eu não conhecia ele. Meu primeiro pensamento era dar um cascudo nele, depois tive a oportunidade de conhecê-lo. Tenho tanta fé de que você e a Marta vão consertar São Paulo… A mesma fé que teria se fosse eu.
Durante o encontro, Boulos se portou como se petista fosse, tamanha reverência ao partido. Ao apresentar as legendas da coligação, começou pelo PT, para só depois citar o PSOL.
— Hoje começa o jogo. E vendo essa convenção lotada, animada, com cheirinho da vitória, me dá ainda mais convicção e confiança, de que essa campanha não vai ser minha e da Marta. Essa campanha vai ser nossa — afirmou Boulos em seu discurso.
O candidato disse que ele e Marta querem ganhar a prefeitura, não só pra sentar na cadeira e assinar papel.
— Queremos ganhar para mudar a vida do povo, botar a periferia em primeiro lugar e fazer história. Quero agradecer em primeiro lugar essa militância, mais de 10 mil pessoas. A militância que no fim do dia, quando o bicho pega, segura a onda. E é que quem vai levar a campanha nas costas — disse.
Costurada pelo chefe do Executivo, a chapa é resultado da estratégia petista em apoiar nomes fortes de outros partidos em cidades onde a legenda tem pouca chance de eleger candidatos.
É a primeira vez na história do PT que a sigla não terá nome próprio nas eleições para a Prefeitura de São Paulo. Até então, desde a redemocratização, em 1985, o partido tinha candidato na cabeça de uma das chapas. A presença de Lula e da tropa da esquerda é uma forma de o PT marcar posição na maior cidade do país.
O combate de Lula não é apenas contra a reeleição do atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Mas também contra Jair Bolsonaro (PL), apoiador do prefeito. No palanque, apoiadores anunciaram, por mais de uma vez, que o apoio à candidatura é uma forma de “deixar para trás o candidato Bolsonarista”, citar nomes.
Na última pesquisa Datafolha, do dia 5 de julho, Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo, e Boulos estavam empatados tecnicamente, com 24% e 23%, respectivamente, das intenções de voto.
Boulos não poupou elogios a seu padrinho político e falou sobre ‘sonhos impossíveis’ ao lembrar que Lula, um metalúrgico, chegou três vezes à presidência. E citou que ele mesmo veio do movimento dos sem teto com disposição para ganhar a prefeitura de São Paulo.
— Eles sempre disseram que nossos sonhos eram impossíveis. Que era impossível um metalúrgico chegar à presidência, e você chegou três vezes. Era impossível acabar com a fome, e você acabou. Era impossível alguém que veio do movimento sem teto ganhar a prefeitura da maior cidade da América Latina, e nós vamos mostrar mais uma vez que ele estão errados.
Me sinto abraçada, diz Marta
A ex-prefeita de São Paulo e candidata a vice, Marta Suplicy, que chegou a integrar a gestão do atual prefeito Ricardo Nunes, no cargo de secretária de Relações Internacionais, disse que se sentia “abraçada pelo meu partido”, o PT. Marta voltou à legenda este ano depois de deixar o partido quase nove anos atrás.
— Esse é meu lado da política, e a minha história, e a minha vida. Presidente Lula, você me trouxe de volta ao PT e criou as bases para a coligação poder existir — afirmou.
Marta disse que Boulos é feito de uma receita que ela gosta: tem inteligência, é rápido, e se importa com as pessoas.
— Você vai fazer muito mais do que eu fiz, porque vai contar com minha experiência, e com sua própria.
Convenção reúne 10 mil
A convenção partidária da coligação para formalizar as candidaturas foi realizada na manhã deste sábado em encontro fechado. À tarde, o evento de lançamento reuniu, segundo os organizadores, cerca de 10 mil pessoas no Expo Center Norte.
A articulação de Lula em torno do nome de Boulos começou ainda em 2022, durante a campanha para a eleição presidencial. Em troca da desistência de Boulos à candidatura para o cargo de governador de São Paulo, e de seu apoio a Fernando Haddad à época, Lula prometeu endossá-lo na disputa municipal em 2024.
Compareceram ao evento os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovações), Marina Silva (Meio Ambiente), além de Janja, Gleise Hoffmann, presidenta Nacional do PT, Paula Coradi, presidente nacional do PSOL, e as bancadas estadual e federal dos partidos.
Além de Haddad, a deputada federal e também ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL-SP) marcou presença. O legado dela e dos outros dois ex-prefeitos petistas de São Paulo, Haddad e Marta, foi amplamente ressaltado durante todo o evento. Integrantes do PT têm se empenhado na pré-campanha, na tentativa de demonstrar uma integração da esquerda. Vencer em São Paulo é um dos principais objetivos da sigla de Lula neste ano.
Convenção em São Bernardo
Em ritmo de campanha, Lula retornou ao seu berço político para desempenhar seu papel de cabo eleitoral. Antes do lançamento da candidatura da chapa Boulos-Marta, o presidente e seus ministros estiveram no ABC paulista, para apoiar a pré-candidatura do deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT) para São Bernardo do Campo.
A sigla tenta recuperar a prefeitura de São Bernardo, já ocupada pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Hoje, a cidade é chefiada por Orlando Morando (PSDB).
O PT tem hoje chefes do Executivo de quatro cidades do estado: Araraquara, Matão, Diadema e Mauá, duas delas na região metropolitana de São Paulo, berço político de Lula. Em entrevista recente ao Metrópoles, o chefe do diretório da sigla em São Paulo, Kiko Celeguim, afirmou que a sigla quer quintuplicar o número de prefeitos em São Paulo. A estratégia para isso é explorar a figura do presidente Lula em todos os locais em que ele teve vitória sobre Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
As convenções partidárias para as eleições municipais começaram neste sábado e o cenário ainda é de indefinição em muitas capitais. O prazo para os partidos deliberarem sobre coligações, definirem chapa e a lista de candidatos a vereador vai até 5 de agosto, cinco dias antes do prazo limite para registrarem os nomes na Justiça Eleitoral. Mais de 155 milhões de brasileiros estão aptos a votar neste ano.
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