A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão nuclear das Nações Unidas (ONU), afirmou nesta quinta-feira (26/6) que ainda não recebeu comunicação oficial do Irã sobre a decisão do Parlamento e do Conselho dos Guardiões da Revolução Islâmica de suspender totalmente a cooperação com a entidade.
A medida, segundo autoridades iranianas, foi aprovada após os bombardeios de Israel e dos Estados Unidos contra instalações nucleares do país persa.
Em resposta à possibilidade de o Irã recusar o acesso dos inspetores da AIEA, o diretor da agência Rafael Mariano Grossi explica que a presença dela no Irã não é um gesto de generosidade, mas “uma responsabilidade internacional”.
“O Irã é membro do Tratado de Não Proliferação e, como tal, deve ter um sistema de inspeção”, acrescentou, dizendo não esperar uma suspensão unilateral das inspeções por parte de Teerã, pois isso, segundo ele, significaria “uma nova crise” na região. “Não acho que isso seja o que eles querem ou o que seja do interesse deles”, declarou nos estúdios da RFI, parceiro do Metrópoles.
- Após os bombardeios israelenses e americanos contra instalações nucleares iranianas, o Conselho de Guardiões da Revolução Islâmica, órgão executivo responsável por assegurar que a lei esteja de acordo com a Constituição, ratificou, nesta quinta, um projeto de lei que propõe a suspensão total da cooperação com a agência nuclear.
- O órgão global de vigilância nuclear, por sua vez, afirmou que não recebeu informações oficiais do país iraniano até o momento. “Até o momento, a AIEA não recebeu uma comunicação oficial do Irã sobre esse assunto”, confirmou a agência à BBC.
- A informação foi noticiada pelo Iran International, um canal próximo à oposição iraniana no exterior, mencionando declarações de um porta-voz do Conselho dos Guardiões. Diante da suspensão, a ONU não tem permissão para inspecionar o programa nuclear do Irã.
- De acordo com a televisão estatal, 221 deputados votaram a favor do texto, nenhum votou contra e um se absteve. “A proposta que exige ao governo suspender sua cooperação com a AIEA foi revisada pelo Conselho dos Guardiões e é considerada conforme aos princípios da sharia e da Constituição”, declarou à agência oficial Irna o porta-voz do Conselho, Hadi Tahan Naz.
O plenário do Parlamento iraniano aprovou a suspensão nessa quarta-feira (25/6) sob o argumento de que o órgão global de vigilância nuclear é “cúmplice” de Israel e dos Estados Unidos (EUA). Além disso, o órgão executivo informou que a AIEA teria agido de forma “politicamente motivada” em prol dos interesses ocidentais.
“Qualquer cooperação com a agência ou envio de relatórios, bem como a entrada de inspetores e gerentes da AIEA, estão proibidos até que a segurança das instalações nucleares e dos cientistas iranianos seja garantida”, disse o presidente do Legislativo, Mohammad Bagher Qalibaf.
Para que seja totalmente ratificado, o texto precisa ser transmitido à Presidência do Irã. Porém, a aprovação já foi interpretada como um sinal de desafio por parte de Teerã.
Avaliações de danos causados e cooperação contínua
Um dos principais objetivos da agência é acompanhar de perto a atividade nuclear no Irã e em outros países, incluindo aqueles que assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). No entanto, as relações da agência com o Irã já estavam tensas antes do ataque israelense ao país, ocorrido em 13 de junho.
Durante toda a guerra, os inspetores da AIEA apoiaram o Irã, mas não conseguiram acesso às instalações nucleares devido aos combates. Ainda não ficou claro quando, ou se, a autorização para visitar essas instalações foi retomada, agora que um cessar-fogo foi estabelecido.
Nesta quinta-feira, no 14º dia de guerra entre Israel e Irã, o diretor foi entrevistado nos estúdios de uma rádio francesa. Ele reconheceu que as relações com Teerã são tensas, mas acredita que o Irã deve permanecer dentro do TNP e pede acesso aos locais, além da cooperação contínua entre a agência e o país persa.
“O Irã sofreu danos enormes. Os ataques, que começaram em 13 de junho, resultaram em danos físicos muito significativos a três locais — as usinas de Natanz, Isfahan e Fordow —, onde o Irã concentrou a maior parte de suas atividades de enriquecimento de urânio. Eu sei que há muitas avaliações sobre o grau de devastação, aniquilação, destruição total, etc. Mas uma coisa acho que todos concordam: há danos muito, muito, muito consideráveis”, enfatizou.
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