A Bola de Ouro faz mal ao futebol. Não faz sentido uma premiação individual ter se tornado tão importante em um esporte coletivo. A expectativa era de que a polêmica diminuísse após o fim da rivalidade entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, que inflou sua popularidade de forma desproporcional — mas não foi o que aconteceu.
A cerimônia do ano passado foi, de longe, a mais absurda e constrangedora até agora, com o Real Madrid boicotando o evento ao saber que seu craque, Vinícius Júnior, ficou atrás de Rodri no pódio. O meio-campista do Manchester City e da seleção espanhola teve uma temporada impecável e foi um vencedor mais do que justo, mas Vinícius e o clube sequer fizeram questão de estar presentes na coroação de Rodri, possivelmente o melhor jogador do mundo naquele ano. O resultado? Suas queixas sobre falta de respeito soaram como o auge da ironia.
Foi uma cena surpreendentemente patética de birra de um jogador que conquistou tantos admiradores por sua luta — muitas vezes solitária — contra o racismo na Espanha. Mas, ao mesmo tempo, uma atitude previsivelmente mesquinha vinda do clube mais arrogante do futebol.
O Real Madrid realmente acredita que a Bola de Ouro, assim como a Champions League, lhe pertence por direito. Como admitiu Pascal Ferré, ex-diretor da revista France Football, em 2022, o clube é mestre em influenciar os votantes da premiação.
“Florentino Pérez orquestra bem as campanhas”, disse ele à Agência EFE. “O Real Madrid tem uma máquina muito forte. Sua estratégia é apoiar um único jogador. Durante anos, foi Cristiano Ronaldo; depois, Karim Benzema. Isso evita que os votos se dispersem. Eles sabem como o sistema funciona. Não é coincidência que sejam o clube com mais vencedores.”
Diante disso, será interessante ver como Pérez lidará com a votação deste ano. O Real errou na temporada passada, e agora Vinícius tem a concorrência de Kylian Mbappé, que nunca escondeu o desejo de ganhar o troféu e finalmente começa a parecer um candidato real.
Não há como negar que o fato de o Real Madrid ter três candidatos fortes à Bola de Ouro de 2024 acabou prejudicando Vinícius, que ficou apenas 51 pontos atrás de Rodri (1170). Vale lembrar que Jude Bellingham terminou em terceiro com impressionantes 917 pontos, enquanto Dani Carvajal surpreendeu ao ficar em quarto, à frente de Erling Haaland. Além disso, Toni Kroos somou 291 pontos e entrou no top 10, enquanto Federico Valverde ficou em 17º (58) e Antonio Rüdiger em 22º (13).
No fim das contas, ninguém conquista uma dobradinha de LaLiga e Champions League sem vários jogadores em altíssimo nível, e isso acabou dividindo os votos do Madrid. Se Vini tivesse sequer herdado os pontos de Valverde, teria terminado em primeiro.
Também dá para argumentar que o clube apostou no cavalo errado. Talvez tivesse sido mais inteligente apoiar Carvajal, já que, além da temporada brilhante pelo Real Madrid, ele ainda conquistou a Eurocopa com a Espanha — enquanto Vinícius decepcionou pelo Brasil na Copa América.
É claro que laterais direitos não ganham a Bola de Ouro (desculpe, Trent!), então não foi nenhuma surpresa o Real Madrid ter apoiado Vinícius – ainda mais considerando que Bellingham claramente perdeu fôlego na reta final da temporada. O brasileiro foi decisivo para os Merengues na campanha da Champions League, marcando gols importantes no mata-mata, especialmente contra Bayern de Munique e Borussia Dortmund.
Mas dizer que ele foi “roubado” é um exagero. Não estamos falando de casos como Franck Ribéry em 2013 ou Thierry Henry em 2004. Vinícius teve uma grande temporada, mas participou diretamente de apenas 33 gols pelo Real em todas as competições – o que o deixou em 16º entre jogadores das cinco principais ligas da Europa, atrás de nomes como Lois Openda e Ollie Watkins.
Além disso, essa marca já foi superada nesta temporada por Robert Lewandowski (35), Omar Marmoush (36), Raphinha e Harry Kane (37) e Mohamed Salah (47) – e ainda nem chegamos ao fim de fevereiro.
Via: GOAL
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